Postado em: 24 abr 2013 às 20:07
A família, muitas vezes, é uma das instituições responsáveis por passar preconceitos adiante. Por trás do que aparentemente são sábias palavras de pai e mãe escondem-se grandes bizarrices
Leonardo Sakamoto, em seu blogEntrei em uma loja de armarinhos e pedi determinado rolo de linha e agulha para poder pregar alguns botões fujões e arrumar a maldita bainha de uma calça que insistia em se soltar, num desespero de causa para tocar o chão. Um grupo de simpáticas senhoras de cabelos brancos, ouvindo meu pedido, veio me dar os parabéns. Achei engraçada a cena e expliquei que fazer isso era mais barato que apelar sempre para os serviços de um profissional – o que seria vergonhoso, ainda mais para um neto de costureira.
Até que uma delas reclamou que a nora era uma “inútil” porque não sabia pregar um botão da camisa do filhinho dela. De forma bastante delicada, para não atrapalhar aquele momento-chá-da-tarde, perguntei se o pimpolho não poderia ele mesmo fazer isso. Rindo de forma doce, ela soltou um “claro que não!”. Afinal, ele era homem. Eu é que estava indo além das minhas tarefas.
Pessoas ficam amuadas comigo quando digo que a família é uma das instituições responsáveis por passar preconceitos adiante, reforçando uma programação machista do indivíduo, por exemplo. Mas por trás do que parecem serem sábias palavras de pai e mãe, das quais nos lembramos com carinho e se tornam leis supremas para o resto da vida, não raro escondem-se grandes bizarrices.
A maior parte das incumbências que se atribuem aos gêneros não é por conta
de características físicas que diferenciam homens e mulheres – elas são capazes de fazer tudo o que nós fazemos, nós é que não somos capazes de fazer tudo o que elas podem fazer. Da mesma forma, uma “tradição” não existe desde sempre, ela é construída ao longo tempo, feito camadas de cebola sobrepostas, e não raro embute em sua gênese uma relação dominador/dominado, fantasiada de costume, cujo real significado perde-se na repetição passiva sem reflexão.
Daí alguns leitores dizem: “Ah, mas eu sou homem e passo a vassoura na casa, levo os filhos na escola e prego botões. Então, você está errado, japa”. Se você se orgulha de fazer sua obrigação, deve ver essas atividades como favores feitos a alguém – à sua companheira, talvez? O que é ridículo. Isso deveria ser tão corriqueiro – entre nós, homens – como respirar ou comer, atos que fazemos sem questionar ou nos sentir grandiosos por isso.
Mas se mamãe (que junto com papai, doutrinou-me direitinho em preconceitos e visões excludentes de mundo) ensinou assim, quem sou eu para negar?
Enfim, pobres noras.
Eu já disse pra minha mãe uma vez: "Um homem que não sabe preparar uma arroz com feijão, nem pregar um botão de camisa, pode ser considerado um inútil."
ResponderExcluirainda bem que existem homens como vc. Roberto, e a cada dia mais e mais
Excluirlamentavelmente ainda existem mulheres machistas que fazem de um tudo para impedir literalmente que os homens sejam autosuficientes - é uma forma de exercer poder
além tbm dos homens que temem virar "mulherzinha" se fizerem "certos serviços" - esse nem dá pra comentar rsrsrsrs