terça-feira, 19 de janeiro de 2010
Entrevista com Naiá Duarte
O Projeto Mulher Viva (http://www.mulherviva.com/)
é uma esperança para mulheres que são violentadas dentro das igrejas
cristãs e que são escravas da vergonha, da dor, da ignorância, da
humilhação e do medo.
A violência física, emocional, psicológica e moral
as vezes são cometidas por aqueles que pregam a mensagem do Evangelho
de Cristo que, em momento algum, defende a opressão do homem sobre a
mulher e sim o amor do marido pela esposa ao ponto de sacrificar a
própria vida. Que as palavras dessa ativista social pelo fim de toda
forma de violência contra a mulher inspire mulheres e homens a se
juntarem por essa causa.
1 - Quem é Naiá Duarte (suas referências) e há quanto tempo você luta pelo fim da violência contra a mulher?
Naiá Duarte:
Sou santista, formada em Direito e História com especializações na área
de educação e filosofia, casada e mãe de 2 filhos. Luto pelas causas
sociais há 10 anos e especificamente contra violência há 3 anos.
2 - O que te levou a militar pelas mulheres vítimas de violência?
Naiá Duarte: Observando
as mulheres dentro da igreja. Como uma mulher liberta em Jesus de
Nazaré pode se deixar escravizar por textos fora do contexto como
Efésios 5: 22¹ daí foi um pulo ao constatar a violência no âmbito
eclesiástico (física, psicológica, patrimonial).
Efésios 5
22 - Vós, mulheres, sujeitai-vos a vosso marido, como ao Senhor;
23 - porque o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo
é a cabeça da igreja, sendo ele próprio o salvador do corpo.
24 - De sorte que, assim como a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo sujeitas a seu marido.
24 - De sorte que, assim como a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo sujeitas a seu marido.
3 - Aconteceu algum fato específico que te levou a dedicar sua vida a essa causa?
Naiá Duarte:
Sim, quando compreendi que algumas mulheres sofrem violência por não
saberem ou por serem influenciadas por textos fora do contexto em um
“púlpito viciado” dominador e machista eu contatei meu amigo Pr.
Ariovaldo Ramos e pedi sua orientação como poderíamos através da Palavra
Sagrada minorar o sofrimento de mulheres que sofrem violência dentro e
fora da igreja.
4 - O que te motivou a abordar o tema no contexto das mulheres cristãs? Há violência dentro das igrejas evangélicas?
Naiá Duarte: É triste falar, mas existe e muito. Vou citar um exemplo de uma pastora:
“Naiá, o que eu faço? Meu marido é pastor e em casa me bate e me humilha. Eu disse:
Como na sua igreja existe um pastor presidente vá até ele e conte o que está acontecendo.
Ela foi e o pastor presidente disse que iria pensar no assunto e que em breve daria uma resposta.
Dois dias se passaram e o marido pastor foi chamado ao gabinete do presidente de uma grande igreja evangélica pentecostal.
Fulano pastor entende de Deus que você e sua família deveriam pastorear uma igreja a 500 km daqui. O fulano pastor todo feliz pegou sua esposa violentada e seus filhos e foram “pastorear” em um lugar longe dali e que não levantasse suspeitas. Em nenhum momento foi abordado ou tratado o assunto por eles.
“Naiá, o que eu faço? Meu marido é pastor e em casa me bate e me humilha. Eu disse:
Como na sua igreja existe um pastor presidente vá até ele e conte o que está acontecendo.
Ela foi e o pastor presidente disse que iria pensar no assunto e que em breve daria uma resposta.
Dois dias se passaram e o marido pastor foi chamado ao gabinete do presidente de uma grande igreja evangélica pentecostal.
Fulano pastor entende de Deus que você e sua família deveriam pastorear uma igreja a 500 km daqui. O fulano pastor todo feliz pegou sua esposa violentada e seus filhos e foram “pastorear” em um lugar longe dali e que não levantasse suspeitas. Em nenhum momento foi abordado ou tratado o assunto por eles.
Quando a pastora me telefonou dizendo o que tinha acontecido eu fiquei indignada e me pus à disposição e ela me perguntou novamente e agora? “Sabemos que não podemos decidir pela pessoa, disse que a minha preocupação era com a integridade física dela e aconselhei a denunciá-lo.”
5 - Como tem sido recebido o seu trabalho, através do Projeto Mulher Viva, nas igrejas pelos pastores e liderança? Há uma resistência e na sua opinião a que ela se deve?
Naiá Duarte: A
Mulher Viva tem sido bem aceito por igrejas sérias na Palavra e que
entendem que o pecado pode vir a transformar maridos que deveriam
proteger suas esposas em verdadeiros lobos ferozes. Algumas igrejas onde
o estudo da língua original e da história da igreja não é alvo de
atenção a pregação é superficial, dominadora e excludente.
6 - Como é a reação das mulheres cristãs ao seu trabalho? Elas se sentem encorajadas a relatar as violências sofridas?
Naiá Duarte:
A reação normalmente é positiva mais o fato de relatar a violência
ocorre depois de um a dois meses da palestra proferida, ou seja, a
vitima me liga ou manda um email querendo saber como ela pode orientar
sua vizinha que sofre espancamentos. Oriento por telefone ou email e
peço para marcar um encontro com a vitima e na maioria das vezes vem ela
com a vizinha acompanhando.
7 - Você possui algum dado estatístico sobre a violência contra a mulher no meio evangélico?
Naiá Duarte:
De acordo com a Casa de Isabel (ONG na zona leste da capital) 80 % das
mulheres atendidas lá são evangélicas de igrejas neo-pentescostais,
pentecostais e históricas.
8 - Você trabalha ou pretende trabalhar com a conscientização do homem cristão sobre a problemática da violência contra a mulher? Se trabalha como é ou seria desenvolvida essa abordagem?
Naiá Duarte:
Não trabalho diretamente com o homem agressor mais encaminho se ele
quiser para tratamento psicológico e espiritual. Entendo que o homem
agressor precisa de tratamento e amor.
9 - Fale sobre o Projeto Mulher Viva. ( desde quando ele existe? como foi criado? qual objetivo? quais as ações e programas? quais as conquistas?...)
Naiá Duarte:
O Projeto Mulher Viva nasceu no morro São Bento em Santos/SP por
ocasião de uma palestra feita por mim sobre Direitos das Mulheres em
2007. Uma chama acendeu em mim e comecei a olhar para as mulheres com
varias interrogações:
Por que a mulher aceita a violência?
Por que o púlpito é usado na maioria das vezes por homens?
Por que em casamentos aconselha-se a mulher a ser submissa e não aconselha o homem a amá-la e morrer por ela se necessário for. (efésios 5:22-30)
Por que a mulher aceita a violência?
Por que o púlpito é usado na maioria das vezes por homens?
Por que em casamentos aconselha-se a mulher a ser submissa e não aconselha o homem a amá-la e morrer por ela se necessário for. (efésios 5:22-30)
E
após esses questionamentos criei junto com meu esposo advogado e pastor
Cícero Duarte o Mulher Viva que tem como objetivo que toda mulher viva
sem violência. Trabalhamos com a conscientização e prevenção da
violência através de palestras, fóruns e oficinas. Ano passado (2009)
atendemos 28 mulheres e alcançamos um publico de mais de 7000 pessoas.
Nossa meta para 2010 é atender 100 mulheres e firmar parcerias com objetivo de servir melhor a mulher vitimada.
Nossa meta para 2010 é atender 100 mulheres e firmar parcerias com objetivo de servir melhor a mulher vitimada.
10
- Qual a sua opinião sobre a utilização dos blogs como ferramenta de
atuação na luta contra toda e qualquer violência contra a mulher?
Naiá Duarte: Esperança
11 - Deixa a sua mensagem para os leitores do blog "O grito de Ana" sobre essa atrocidade que é a violência contra a mulher praticada no mundo.Naiá Duarte: Não podemos nos conformar com qualquer forma de violência contra qualquer pessoa, precisamos nos apoiar e lutar pelo direito a vida e ao amor, somente quando entendemos que a vida é o bem mais precioso que temos e que não podemos dispor dela porque esta é uma prerrogativa do altíssimo, compreenderemos que somos nós que devemos lutar pela vida e proteger nossa integridade; tendo como paradigma Jesus Cristo que rompeu a Lei do Silêncio denunciando e permitindo que suas discípulas estudassem, evangelizassem pregasse, ou seja, que pudessem exercer seus dons de uma forma integral.
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