Daniel Welzer-Lang
Resumo: A partir de
definições de homofobia e de heterossexismo, este artigo explora a profundidade
heurística das relações sociais de sexo transversais ao conjunto de pessoas
egrupos de gênero, no interior de um quadro teórico que rompe com definições
naturalistas e/ou essencialistas dos homens. O texto analisa os esquemas, o
habitus, o ideal viril, homofóbico e heterossexual que constroem e fortalecem a
identidade e a dominação masculina. Paradesenvolver este argumento, o autor faz
uma vasta revisão bibliográfica da literatura feministafrancesa contemporânea.
Palavras-chave: masculinidade, homofobia,
dominação, teoria feminista francesa.
Este artigo questiona as modalidades de análise a
respeito dos homens e do masculino e o quadro teórico e os instrumentos
utilizados para esta análise, à luz de meustrabalhos e dos debates atuais em
diferentes redes que tratam deste tema. Apoio-me, emparticular, no trabalho de
síntese que realizei para o exame de habilitação em orientação e nos debates
que atravessam a Rede Européia de Homens Pró-feministas e a Universidade
euromediterrânea das homossexualidades.
Este artigo completa as análises teóricas que
publiquei em 1994 que definiam, entre outras coisas, o heterossexismo, a
homofobia e suas
ligações com a dominação masculina.
As relações homens/mulheres e homens/homens,
analisadas aqui como relaçõessociais de sexo, parecem ser em todos os casos –
hipótese que eu defendo – o produto de um duplo paradigma naturalista:
– a pseudo natureza superior dos homens, que
remete à dominação masculina, ao sexismo e às fronteiras rígidas e
intransponíveis entre os gêneros masculino e feminino;
– a visão heterossexuada do mundo na qual a
sexualidade considerada como “normal” e “natural” está limitada às relações
sexuais entre homens e mulheres. As outras sexualidades, homossexualidades,
bissexualidades, sexualidades transexuais... são, no máximo, definidas, ou
melhor, admitidas, como “diferentes”.
A dominação masculina
e as relações homens/mulheres
A existência da dominação masculina se tornou
hoje uma evidência, inclusive nasociologia. A época de minha defesa de tese,
onde era vista pelos membros da bancacomo uma fantasia “arqueo-paleo-marxista”
(retomando uma expressão utilizada nadefesa), parece longe. Numerosos colegas,
inclusive homens sociólogos, utilizam hoje esteparadigma para descrever o
social de maneira compreensiva.
E a contribuição dos estudos feministas para
afinar e enriquecer esta análise está hoje integrada em numeros textos. É assim
que parece haver atualmente um consenso para designar as relações homens/
mulheres como relações sociais de sexo. Dito
de outra forma, a dominação não deve ser analisada como um bloco monolítico
onde tudo está dado, onde as relações se reproduzem ao idêntico.
Mas a análise, tanto global quanto a que se
interessa por um campo específico ou por interações particulares, deve
articular o quadro global, societário (a dominação masculina), e as lutas
objetivas ou subjetivas das mulheres e de seus aliados que visam a transformar
as relações sociais de sexo, logo a modificar a dominação masculina.
Os homens dominam coletiva e individualmente
as mulheres. Esta dominação se exerce na esfera privada ou pública e atribui
aos homens privilégios materiais, culturais e simbólicos. Um setor dos estudos
feministas atuais tende, aliás, a quantificar estes privilégios e a mostrar
concretamente os efeitos da dominação masculina.
A política atual, que, em nossa sociedade,
visa a diminuir as “desigualdades”, não deve nos deixar esquecer que elas
perduram, sob pena de tomarmos nossos sonhos por realidade e não compreendermos
mais nada.
Eu digo desigualdades por simplificação, mas
duvidemos deste termo. Ele tende a nos mostrar as situações de homens e
mulheres como resultados neutros de um sistema global, em que cada grupo de
sexo, cada gênero, seria simétrico e igual na análise. E em que o sistema nos
seria imposto sem possibilidades de mudanças.
Mas isso não é nada. A opressão das mulheres
pelos homens é um sistema dinâmico no qual as desigualdades vividas pelas
mulheres são os efeitos das vantagens dadas aos homens. Quando se atribui ao
dividir uma torta sete partes aos homens e uma às mulheres, a luta por
igualdade deve significar que se divida a torta em porções iguais. Logo, os
homens terão menos!
Certamente, esta análise deve se articular
com outras relações sociais, em especial as divisões hierárquicas ligadas às
pertinências de classes sociais, aos grupos étnicos, à idade. Nossas vidas,
nossas situações materiais são o produto de um conjunto de relações sociais.
Além disso, como outros autores, mostrei a
assimetria que provoca a dominação dos homens. Não somente homens e mulheres
não percebem da mesma maneira os fenômenos, que são no entanto designados pelas
mesmas palavras,mas sobretudo não percebem que o conjunto do social está
dividido segundo o mesmo simbólico que atribui aos homens e ao masculino as
funções nobres e às mulheres e ao feminino as tarefas e funções afetadas de
pouco valor. Esta divisão do mundo, esta cosmogonia baseada sobre o gênero,
mantém-se e é regulada por violências: violências múltiplas e variadas as quais
– das violências masculinas domésticas aos estupros de guerra, passando pelas
violências no trabalho – tendem a preservar os poderes que se atribuem
coletivamente e individualmente os homens à custa das mulheres.
Tudo isso é conhecido, e mesmo que pendurem
os debates – sobre a natureza das violências, as relações entre a divisão por
sexo e por gênero, o lugar dos homens, a análise das transformações atuais,etc.
– surge um consenso para designar a divisão entre dois grupos (ou classes) de
sexo, em gêneros, como fundadora da dominação masculina.
Já há várias décadas, inicialmente as
mulheres e depois alguns homens, têm lutado e/ou produzido análises que
procuram dar visibilidade e explicar esses fenômenos. Podemos nos remeter aos
textos que há muito tempo servem de base a essas análises, produzidos por
Christine Delphy, Colette Guillaumin, Nicole-Claude Mathieu e Paola Tabet.
Cada uma, à sua maneira, mostra como a
dominação é apresentada como óbvia, como um fenômeno natural, integrado de
algum modo à divisão social e hierarquica por sexo. Da análise crítica da
opressão das mulheres, nasceram as lutas contra o sexismo, o patriarcado e o
viriarcado.
Se hoje se admite a dominação masculina e as
relações sociais de sexo têm sido utilizadas para descrevê-la, estas são
freqüentemente citadas como relações sociais ‘entre’ os sexos, entre homens e
mulheres. Essa divisão naturalista e essencialista se reproduz na própria
análise. Desde 1994 (Welzer-Lang, Dutey, Dorais, 1994), mostramos como o grupo
de homens é também estruturado pelos mesmos processos. Descrevi como a educação
dos meninos nos lugares monossexuados (pátios de colégios, clubes esportivos,
cafés..., mas mais globalmente o conjunto de lugares aos quais os homens se
atribuem a exclusividade de uso e/ou de presença) estrutura o masculino de
maneira paradoxal e inculca nos pequenos homens a idéia de que, para ser um
(verdadeiro) homem, eles devem combater os aspectos que poderiam fazê-los serem
associados às mulheres. Eu propus, referindo-me aos trabalhos de Maurice
Godelier (1982), nomear o conjunto desses lugares e espaços como a “casa dos
homens”. Não seria demais retomar em parte aqui o que eu descrevia na época, à
luz de nosso estudo sobre a homofobia.
A casa-dos-homens
Em nossas sociedades, quando as crianças do
sexo masculino deixam, de certo modo, o mundo das mulheres, quando começam a se
reagrupar com outros meninos de sua idade, elas atravessam uma fase de
homossociabilidade na qual emergem fortes tendências e/ou grandes pressões para
viver momentos de homossexualidade.
Competições de pintos , maratonas de punhetas
(masturbação), brincar de quem mija (urina) o mais longe, excitações sexuais
coletivas a partir de pornografia olhada em grupo, ou mesmo atualmente em frente
às strip-poker eletrônicas, em que o jogo consiste em tirar a roupa das
mulheres... Escondidos do olhar das mulheres e dos homens de outras gerações,
os pequenos homens se iniciam mutuamente nos jogos do erotismo. Eles utilizam
para isso estratégias e perguntas (o tamanho do pênis, as capacidades sexuais)
legadas pelas gerações precedentes. Eles aprendem e reproduzem os mesmos
modelos sexuais, tanto pela forma de aproximação quanto pela forma de expressão
do desejo.
Nessa casa dos homens, a cada idade da vida,
a cada etapa de construção do masculino, em suma está relacionada uma peça, um
quarto, um café ou um estádio. Ou seja, um lugar onde a homossociabilidade pode
ser vivida e experimentada em grupos de pares. Nesses grupos, os mais velhos,
aqueles que já foram iniciados por outros, mostram, corrigem e modelizam os que
buscam o acesso à virilidade. Uma vez que se abandona a primeira peça, cada
homem se torna ao mesmo tempo iniciado e iniciador.
Sobre este tema, os trabalhos do antropólogo
Maurice Godelier sobre os Baruya da Nova Guiné descrevem como “o esperma é a
vida, a força, o alimento que dá força à vida”. Ele mostra como, no segredo da
casa-dos-homens, os jovens homens ainda não casados e os iniciados transmitem,
pela ingestão de esperma (felação), os rudimentos da dominação das mulheres.
Qualquer violação desse segredo é punida muito severamente e aqueles que
resistem à iniciação são obrigados por força a fazê-la, diz o pesquisador.
Aprender a sofrer
para ser um homem,
a aceitar a lei dos maiores
Aprender a estar com os homens, ou nas
primeiras aprendizagens esportivas na entrada da casa-dos-homens, a estar com
os postulantes ao status de homem, obriga o menino a aceitar a lei dos maiores,
dos antigos: daqueles que lhe ensinam as regras e o savoir-faire , o saber ser
homem. A maneira pela qual alguns homens se lembram dessa época e a emoção que
transparece então parecem indicar que esses períodos constituem uma forma de
rito de passagem.
Aprender a jogar hockey , futebol ou
base-ball é inicialmente uma maneira de dizer:eu quero ser como os outros
rapazes. Eu quero ser um homem e portanto eu quero me distinguir do oposto (ser
uma mulher). Eu quero me dissociar do mundo das mulheres e das crianças.
É também aprender a respeitar os códigos, os
ritos que se tornam então operadores hierárquicos. Integrar códigos e ritos,
que no esporte são as regras, obriga a integrar corporalmente (incorporar) os
não-ditos. Um desses não-ditos, que alguns anos mais tarde relatam os rapazes
já tornados homens, é que essa aprendizagem se faz no sofrimento.
Sofrimentos psíquicos de não conseguir jogar
tão bem quanto os outros. Sofrimentos dos corpos que devem endurecer para poder
jogar corretamente. Os pés, as mãos, os músculos... se formam, se modelam, se
rigidificam por uma espécie de jogo sado- masoquista com a dor.
O pequeno homem deve aprender a aceitar o
sofrimento – sem dizer uma palavra e sem “amaldiçoar” – para integrar o círculo
restrito dos homens. Nesses grupos monossexuados se incorporam gestos, movimentos,
reações masculinas, todo o capital de atitudes que contribuirão para se tornar
um homem.
Nos primeiros grupos de meninos, se “entra”
em luta dita amigável (não tão amigável assim se acreditamos no monte de
choros, de decepções, de tristezas escondidas que se associam a eles) para
estar no mesmo nível que os outros e depois para ser o melhor. Para ganhar o
direito de estar com os homens ou para ser como os outros homens. Para os
homens, como para as mulheres, a educação se faz por mimetismo. Ora, o mimetismo dos homens é um mimetismo
de violências. De violência inicialmente contra si mesmo. A guerra que os
homens empreendem em seus próprios corpos é inicialmente uma guerra contra eles
mesmos. Depois, numa segunda etapa, é uma guerra com os outros.
Articulando prazeres – prazer de estar entre
homens (ou homens em formação) e se distinguir das mulheres, prazer de poder
legitimamente fazer “como os outros homens” (mimetismo) – e dores do corpo,
cada homem vai individualmente e coletivamente fazer sua iniciação. Através
dessa iniciação se aprende a sexualidade. A mensagem dominante: ser homem é ser
diferente do outro, diferente de uma mulher. Além disso, eu mostrei como a
“primeira peça” da casa-dos-homens, o que eu chamei de vestíbulo da “gaiola da virilidade”, é um lugar de
alto risco de abuso. Ela funciona, parece, como um lugar de passagem
obrigatório que é fortemente freqüentado. Um corredor onde circulam, ao mesmo
tempo, jovens recrutas da masculinidade (os pequenos homens que acabaram de
abandonar a saia das mães) e outros pequenos homens recém-iniciados que vêm
também – assim é o costume dessa casa – transmitir uma parte de seus saberes e
seus gestos. Mas a antecâmara da casa-dos-homens é também um lugar frequentado
periodicamente por homens mais velhos. Homens que ocupam, ao mesmo tempo, o
lugar de irmão mais velho, modelo masculino a ser conquistado pelos pequenos
homens e agentes encarregados de controlar a transmissão dos valores. Alguns se
nomeiam pedagogos, outros monitores de esporte, ou ainda padres, chefes de
escoteiros... Alguns estão presentes fisicamente. Outros agem através de suas
mensagens sonoras, de suas imagens que se manifestam nesse lugar. Outros ainda
são denominados artistas, cantores, poetas. De fato, falar da “primeira peça”
da casa-dos-homens constitui uma forma de abuso de linguagem. Dever-se-ia
dizer: as primeiras peças, pois a geografia das casas-dos-homens é muito
mutável. A cada cultura ou a cada microcultura, às vezes em cada cidade ou
vilarejo, a cada classe social, corresponde uma forma de casa-dos-homens. O
tema da iniciação dos homens se conjuga de maneira extremamente variável. O
conceito é constante, mas as formas são lábeis.
O masculino é, ao mesmo tempo, submissão ao modelo
e obtenção de privilégios do modelo. Alguns homens mais velhos se aproveitam da
credulidade dos novos recrutas e essa primeira peça da casa é vivida por
numerosos meninos como a antecâmara
do abuso. E isso numa proporção que, à primeira vista, pode
surpreender.
Não somente o pequeno homem começa a descobrir que,
para ser viril, é preciso sofrer, mas também nessa peça (ou nas outras, não se
trata aqui de uma metáfora) o menino é, às vezes, iniciado sexualmente por um
adulto. Iniciado sexualmente pode também significar violado.
Ser obrigado – sob obrigação ou ameaça – de
acariciar... de chupar ou de ser penetrado de maneira anal por um sexo ou um
objeto qualquer. Masturbar o outro. Deixar-se acariciar...Compreende-se que os
homens a quem uma tal iniciação é imposta guardem seguidamente marcas
indeléveis
Tudo parece indicar, de acordo com as entrevistas
realizadas no estudo sobre a homofobia e depois no das prisões, que muitos homens que foram violentados
sexualmente por outro homem mais velho acabam por reproduzir esta forma
particular de abuso. É como se eles se repetissem: “Já que eu passei
por isso, que ele também passe”. E o abuso, além dos beneficios que traz, é
também uma forma de exorcismo, uma conjuração da desgraça vivida anteriormente.
Depois, ao longo dos anos, quando a lembrança da dor e da humilhação se estanca
um pouco, o abuso inicial funcionaria como um elemento de compensação, um pouco
como uma conta bancária que teria sido aberta por imposição;onde os outros
abusos perpetrados representariam os juros que o homem abusado vem cobrar. Isso vale tanto para abusos realizados
contra homens como os contra mulheres, realizados em outros lugares.
Outros se fecham em uma couraça, incorporando, de
uma vez por todas, que a competição entre homens é uma selva perigosa onde é
necessário saber se esconder, se debater e onde in fine a melhor defesa é o
ataque.
Eu evoco aqui os abusos (ditos) sexuais. Eles são
bem reais e em número muito importante. As pesquisas futuras nos revelarão as
formas, a freqüência e os efeitos a curto, médio e longo prazo.
Confessemos por enquanto nossa negligência sobre
esse tema.
Outras formas de abuso – freqüentemente suas
próprias preliminares – são cotidianas, complementares ou paralelas aos abusos
sexuais. Abusos individuais, mas também abusos coletivos. Que se pense nos
diferentes golpes: socos, pontapés, empurrões. As pseudobrigas nas quais, na
realidade, o maior mostra sua superioridade física para impor seus desejos.
As ofensas, o roubo, a ameaça, a gozação, o
controle, a pressão psicológica para que o pequeno homem obedeça e ceda às
injunções e aos desejos dos outros... Há um conjunto multiforme de abusos de
confiança violentos, de apropriação do território pessoal, de estigmatização de
qualquer coisa que se afaste do modelo masculino dito correto. Todas as formas
de violência e de abuso que cada homem vai conhecer, seja como agressor, seja
como vítima. Pequeno, fraco, o menino é uma vítima marcada. Protegido por seus colegas,
ele pode agora fazer os outros sofrerem o que ele tem ainda medo de sofrer.
Exorcizar o medo agredindo o outro e gozar dos
benefícios do poder sobre o outro é a máxima que parece estar inscrita no
frontal de todas essas peças.
Não nos enganemos. Essa união que faz a força, esta
aprendizagem do coletivo, da solidariedade, da fraternidade – os homens de um
mesmo grupo podem ser associado a irmãos – não tem apenas seus lados negativos.
A solidariedade masculina intervém para evitar a dor de ser uma vítima; essa
casa-dos-homens é o lugar de transmissão de valores positivos. Ter prazer juntos, descobrir o
interesse do coletivo sobre o individual, são valores que fundam a
solidariedade humana.
É verdade que na socialização masculina, para ser
um homem, é necessário não ser associado a uma mulher. O feminino se torna até
o pólo de rejeição central, o inimigo interior que deve ser combatido sob pena
de ser também assimilado a uma mulher e ser (mal) tratado como tal.
Estaríamos enganados se limitássemos a análise da
casa-dos-homens à socialização infantil ou juvenil. Mesmo adulto, casado, o
homem, ao mesmo tempo que “assume” o lugar de provedor, de pai que dirige a
família, de marido que sabe o que é bom e correto para a mulher e as crianças,
continua a freqüentar peças da casa-dos-homens: os cafés, os clubes, até mesmo
as vezes a prisão, onde é necessário sempre se distinguir dos fracos, das
femeazinhas, dos “veados”, ou seja, daqueles que podem ser considerados como não-homens.
Os trabalhos de Christophe Dejours (1998) e Pascale
Molinier (1997) mostram como a virilidade, além dos benefícios (privilégios)
que ela traz aos homens, é também uma estratégia de resistência para lutar
contra o medo, o nojo que inspira o “trabalho sujo” (dos operários da
construção civil ou dos empresários encarregados de demitir, por exemplo), e
também como a virilidade só pode ser vivida transversalmente em relação às
esferas públicas e privadas.
O masculino, as relações entre homens são
estruturadas na imagem hierarquizada das relações homens/mulheres. Aqueles que
não podem provar que “têm” são ameaçados de serem desclassificados e
considerados como os dominados, como as mulheres. Dir-se-á deles que “eles são
como elas” . É assim que na prisão um segmento particular da casa-dos-homens,
os jovens homens, os homens localizados ou designados como homossexuais (homens
ditos afeminados, travestis....), homens que se recusam a lutar, ou também os que estupraram as mulheres,
dominadas, são tratados como mulheres, violentados sexualmente pelos “grandes
homens” que são os chefões do tráfico, roubados, violentados.
Freqüentemente, eles são apenas colocados na posição da “empregada” e devem
assumir o serviço daqueles que os controlam, particularmente o trabalho
doméstico (limpeza da célula, da roupa...) e os serviços sexuais.
As relações sociais de sexo se exercem de maneira
transversal ao conjunto da sociedade, fazendo com que homens e mulheres sejam
atravessados/as por elas.
É então nessa perspectiva que eu propus que se
definisse a homofobia como a discriminação contra as pessoas que mostram, ou a
quem se atribui, algumas qualidades (ou defeitos) atribuídos ao outro gênero.
A
homofobia engessa as fronteiras do gênero.
Quando, com Pierre Dutey, foram interrogadas umas
500 pessoas sobre a forma como elas
reconheciam pessoas homossexuais na rua, na sua grande maioria, elas falam de
homens homossexuais (o lesbianismo é invisível). E mais, elas associam aos
homossexuais os homens que apresentam sinais de feminilidade (voz, roupas,
jeito corporal). Os homens que não mostram sinais redundantes de virilidade são
associados às mulheres e/ou a seus equivalentes simbólicos: os homossexuais.
O paradigma naturalista da dominação masculina
divide homens e mulheres em grupos hierárquicos, dá privilégios aos homens à
custa das mulheres. E em relação aos homens tentados, por diferentes razões, de
não reproduzir esta divisão (ou, o que é pior, de recusá-la para si próprios),
a dominação masculina produz homofobia para que, com ameaças, os homens se
calquem sobre os esquemas ditos normais da virilidade.
a continuação desse longo texto aqui -
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