quinta-feira, 7 de março de 2013

Cultura de estupro: Brasil não tão longe da Índia

A vítima de um cruel estupro coletivo morreu no dia 29/12/2012 em Cingapura. A moça, de apenas 23 anos, foi violentada por seis ou sete homens (dependendo das fontes) dentro de um ônibus em Nova Délhi, Índia.

Ela estava acompanhada por um amigo. Eles voltavam de um cinema à noite, pegaram um ônibus e então tudo aconteceu. O motorista mais os outros homens que lá estavam decidiram violentá-la brutalmente. O quão brutal? Ela perdeu parte do intestino tamanha a violência das penetrações em seu ânus, pois chegou a ser empalada com uma barra de ferro.

Eles a compartilharam por quase uma hora. Depois de satisfeitos, a espancaram covardemente com a tal barra de ferro. E como se não bastasse, eles a jogaram do ônibus em movimento. O amigo dela também foi espancado e jogado pra fora do veículo, só não foi estuprado. Desejo de destruição, hein? Isso porque o mundo quer acreditar que misoginia é uma manifestação raríssima.    

Como algo assim acontece? Eu quero dizer, todos os homens que estão dentro de um ônibus veem uma moça embarcar e ao mesmo tempo pensam: "Oba, vamos estuprá-la e espancá-la!". Será que eles realmente acreditam que se uma mulher está na rua à noite, ela merece ser violentada?

Aqui no Brasil também acontecem estupros coletivos. Há alguns meses, os nove integrantes de uma banda de pagode da Bahia (New Hit) acharam uma excelente ideia violentar duas menores com requinte de crueldade no ônibus da banda. Não tiveram nem a dignidade de usar camisinha. Depois de satisfeitos, falaram para as meninas: "Não esqueçam de tomar a pílula do dia seguinte".  


New Hit (divulgação)
   
O pior é que eles estão aguardando o julgamento em liberdade. Sim, um desembargador teve coragem de julgar procedente o pedido de habeas corpus dos advogados deles. E eles estão fazendo até show! O pior é ter patrocínio e público para esses shows.



(E olhando pra essa foto a gente se pergunta se o mais brega é morder a blusa pra exibir o tanquinho ou usar óculos escuros comprados em supermercado. Antes eles só se vestissem mal, né?)

Enquanto isso, Rafinha Bastos faz piada de estupro. E não só ele. Acontece que a gente tem toda uma cultura que concorda com ele. O que é o quadro de assédio sexual no trem em Zorra Total? Fui assistir ao filme "De pernas pro ar 2" sexta e fiquei abismada com o número de piadas de estupro no filme.

Numa clínica de reabilitação, um viciado em sexo (conhecido como Mano Love) tenta invadir o quarto de uma das internas. Quando ela reclama, ele diz que ela estava querendo. Depois, um dos rapazes diz que ele também tentou invadir o quarto dele. Aparentemente, essa é a piada. Esse mesmo Mano Love aparece querendo praticar zoofilia com cabras numa outra cena.

Num outro momento, uma senhora que não fala inglês pede um garfo num restaurante em Nova Iorque e, ao dizer "I want a fork", o funcionário do restaurante entende "I wanna fuck". Ele então a leva para algum lugar. Momentos depois ela aparece apavorada com a roupa aberta e reclamando que o homem tentou violentá-la. O garçom diz: "Aproveita, melhor que isso você não vai arranjar".

Ou seja, como ela é mais velha (logo considerada feia para o padrão de beleza), deve ficar feliz que algum homem sentiu vontade de estuprá-la. Porque mulher existe pra isso mesmo, não é? Dar prazer ao homem. Uma mulher que não é desejada por nenhum homem é uma pobre coitada.


Vejo muitas pessoas falando desse crime brutal que aconteceu na Índia como se fosse um evento de caráter endêmico. Mas em qualquer site pornográfico, é possível achar uma infinidade de vídeos de estupro. Piadas de estupro, infelizmente comuns aqui no Brasil, continuam sendo veiculadas como se fossem inócuas. No Facebook, existem várias páginas que fazem apologia ao estupro sob o disfarce do humor. São páginas com milhares de "curtidas" e o Facebook jamais apaga as postagens delas, por mais explicitamente misóginas que sejam. 

Vivemos um momento em que grupos historicamente oprimidos não têm o direito de reclamar da discriminação que sofrem. Qualquer tentativa de coibir discurso de ódio é tratada como ameaça à liberdade de expressão, mas quando se critica veículos difusores de discurso de ódio, várias tentativas de censura são aplicadas. Argumentos de violação de direitos autorais, ameaças de exposição de dados e ameaças de processos são apenas algumas das estratégias normalmente utilizadas por quem ganha dinheiro explorando preconceitos arraigados em nossa cultura.

O fato de esse tipo de conteúdo fazer sucesso e render tanto dinheiro só comprova o quanto o estupro é um problema estrutural mundial. Estupradores, na maioria dos casos, são homens comuns. Só uma pequena parte deles são psicopatas. O que todos eles têm em comum é a coragem de usar a força física para constranger uma mulher a servir de boneca inflável para eles. E é essa coragem que o discurso de ódio legitima.   


The truth about false accusation (http://theenlivenproject.com)

Às vezes o sacrifício de uma inocente pressiona autoridades a tomarem providências. Agora só nos resta lutar para que a tortura e morte dessa jovem não seja em vão. 


Encerro com esta excelente imagem do site The Enliven Project que desmistifica através de estatísticas a lenda sobre acusações falsas de estupro:




Postagem original em: http://pattykirsche.blogspot.com/2012/12/cultura-de-estupro-brasil-nao-tao-longe.html
 

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