quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Conversando com Lola

Hoje navegando por aí topei com uma postagem da Lola

"DE VALENTÃO A PIANINHO - O DESTINO DE TODOS OS TROLLS"

POis bem, de modo geral ela fala sobre uma comunidade do Orkut criada pelos Sanctos e diz que quando são presos ficam mansinhos, e aconselha aos leitores do blog que denunciem a Policia Federal e Safernet e esperem... mas esqueceu de avisar que esperem bem sentados e acomodados rsrsrs

Mas ela esquece de dizer também que só 2 foram presos e depois de anos sendo denunciados etc e tais....

Eu fiquei sem ar
e postei o seguinte comentário:

Blogger Rita Candeu disse...
O DESTINO DE TODOS OS TROLLS ?

todos? vc. disse todos?

só 2 foram presos e depois de anos de luta para parar essa quadrilha, o resto continuam soltos, com perfil no Twitter e invadindo sites e com blogs e vc. Lola faz oba oba com a PF?

tenha dó!!

desde quando denunciar para PF e Safernet adianta? tá doida?

devia ter escrito - denuncie e espere sentado que eles nunca respondem nem fazem nada

31 de janeiro de 2013 12:53

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e ela me respondeu (uhuh)


Excluir lola aronovich disse...Rita, eu quis dizer que o destino de todos os trolls é perder a valentia assim que são desmascarados ou pegos, não que todos os trolls serão punidos. Infelizmente, não serão. Tá cheio de gente hiper preconceituosa, violenta e lunática à solta na internet, 99,9% das vezes escondida por trás do anonimato. Mas, quando a máscara cai (ou seja, quando o anonimato é tirado), quem continua fazendo o mesmo discurso de ódio? Reinaldo Azevedo e mais meia dúzia? É pouca gente. Sem o anonimato, sem poder se esconder atrás de um avatar, o número de trolls cairia pra uns 2% do que temos agora. Tô chutando, claro.
E ainda acho que denunciar pra Safernet e pra Polícia Federal é muito mais útil que não fazer nada. O que vc sugere? Espalhar essas páginas pra todo mundo? Ir lá "debater"? Debate com grupos de ódio? Sei lá, eu não aconselharia um movimento negro a debater com a Ku Klux Klan. Não tem debate com grupo de ódio.
Eu não tô fazendo oba oba com a PF! Só tô dizendo que os mascus sanctos (que não devem ser muitos, talvez uns dez) têm bons motivos pra temer a PF. Afinal, dois deles já foram presos.
A PF anunciar que vai investigar alguma coisa já faz um monte de valentão sumir. Foi isso que aconteceu logo após o massacre de Realengo com os mascus. Sumiram. Depois, quando viram que é permitido odiar, boa parte voltou (mas o Silvio Koerich original, também um pseudônimo, lógico, abandonou suas ovelhas pra sempre).

31 de janeiro de 2013 13:19

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minha tréplica -  

Blogger Rita Candeu disse...
Lola
Safernet nem PF fazem nada

foram anos denunciando o blog do tal SK,
foram mais de 70.000 - isso dito pela pópria safernet (isso só em relação ao blog - fora as comunidades do Orkut)

e esses 2 foram presos mais de 1 ano depois do atentado de Realengo - mesmo todos já sabendo que eles foram os mentores da chacina - saiu no Faustão a reportagem com a Dr.Ana Beatriz etc

e porque a PF foi atrás deles dois?
porque criaram uma comunidade mixuruca no Orkut ameaçando de morte Jean Wyllys - isso em setembro de 2011, em 2012 prenderam os caras

se eles não tivessem ameaçado Jeam estariam soltos até agora e já teriam feito outra chacina- (aposto e ganho em cima disso)

mandar denunciar para a PF e Safernet é dar ilusão de que eles vão fazer alguma coisa

e não - de nada adianta denunciar
temos que unir forçar para pressionar o governo e a própria PF que ela se mexa e tire de imediato da rede os sites que incitem violências - e são muitos

é dificil isso?
claro que é
só com muitos e por muito tempo pressionando e fazendo muito barulho conseguiremos isso

e te garanto que não é com postagens dizendo que eles estão com medo que eles vão parar

estão rindo muito
pois sabem que a PF não faz nada
essa é a verdade

temos que criar urgentemente um canal eficiente - e Leis talvez - para que esse tipo de gente seja calada de imediato

na França já foi dado um 1° passo
http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/franca-twitter-tera-de-dar-detalhes-de-usuarios-homofobicos

mas ainda temos um longo caminho a percorrer - mulheres, negros, índios, judeus, homossexuais - não somos minorias

minorias é essa corja que ofende, manda estuprar - e esses tem que se calar de alguma forma e de imediato

no Facebook o que não falta é página que incentivam estupros e atrocidades - tbm não falta petições pedindo que sejam retiradas - isso é uma total falta de bom senso, temos que nos mobilizar de outra forma e deixar de pedir e passar a exigir que as autoridades tomem providências e que Leis mais duras sejam feitas

esses dementes não podem ter voz
basta!!!
chega de estupros, chacinas e de seus incentivadores


um abraço

PS- a algum tempo (inicio de jan) mandei um e-mail para vc. - esperando resposta até hoje
31 de janeiro de 2013 14:00




Excluir
e fim de papo? rsrsrsrs bem espero que ao menos tenha lido já que ela libera os comentários teria ido procurar meu e-mail? duvido srsrsrs

Coisas do Orkut

Comunidade do Orkut - Refugiados no Escuro
acima link de uma das meigas postagens sobr o do blog do Silvio Koerich
onde pede a legalização do estupro e afirmam que mulheres gostam de serem estupradas

reparem na data - 21 de janeiro de 2012


esse blog do silvio recebeu mais de 70.000 denuncias
tal como explicado aqui


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Comunidade do Orkut - Sim, eu sou femista

esse é outro membro ou perfil do mesmos Homens Sanctos

outro tópico bem típico deles
e agora quando fui testar o link o perfil não mais existe
o que aconteceu não sei - se foi a PF, Orkut ou ele memsmo quem excluiu o perfil

só sei que
enquanto eu preparava essa postagem esse perfil do Klio foi excluido
e tbm uma comunidade recém criada onde falavam sobre a tragédia de Santa Maria

mas encontrei essa postagem na página da PF do Face

"...somos o braço da verdadeira extrema-direita que rege as interwebs desse mundo azul." - claro que são - fiéis seguidores de Reinaldo Azevedo, Malafaia, Olavo de Carvalho e Julio Severo

França: Twitter terá de dar detalhes de usuários homofóbicos


por Luiz Nassif

 
Por Gunter Zibell - SP
 
Do blog Nossos Tons

Justiça francesa obriga Twitter a dar detalhes de contas de usuários homofóbicos e antissemitas

O Twitter recebeu ordens de um tribunal francês para que entregue detalhes das contas de usuários que postam mensagens antissemitas no micro blog, o que pode ser um passo significativo contra a homofobia, o racismo e o antissemitismo na rede social.

A Alta Corte de Paris decidiu que o Twitter deve dar detalhes de usuários que postaram mensagens ofensivas no site, a pedido de vários grupos anti ódio.

Isso depois que o Governo francês sugeriu, recentemente, que o Twitter deveria lutar contra tweets homofóbicos, antissemitas e racistas, que potencialmente são contrárias as leis sobre o discurso do ódio.

Nos últimos meses, hashtags (palavras-chave ou termos relevantes associado a uma informação antecedidas pelo símbolo "#") ofensivas viraram tendência. Um exemplo foi a hashtag "#SiMonFilsEstGay" (se meu filho fosse gay). Os usuários que usaram essa hashtag especulavam sobre a dor, tortura ou tratamento degradante que dariam a um filho gay, ou outro parente.

Outros exemplos foram: "#UnBonJuif" (um bom judeu), "#UnJuifMort" (um judeu morto), "#SiMaFilleRameneUnNoir" (se a minha filha traz para casa um homem negro) e "#SiJetaisNazi" (se eu fosse um nazista) onde os usuários listados vários atos fascistas ou racistas que poderiam realizar.

Quando solicitado pelos grupos que procurarem os responsáveis pelo site, que já adiantaram que não hesitarão em fazê-lo, o Twitter poderá enfrentar multas de até US $ 1.300 (£ 825) por cada dia que deixar de entregar detalhes das contas em questão. Além das multas, o tribunal solicitou ao Twitter que crie um sistema, na França, para tornar mais fácil aos usuários, que se sentirem ofendidos, sinalizar o conteúdo ilegal. Segundo a lei francesa, os culpados de incitar o ódio racial podem ser presos por até um ano, além de serem obrigados a pagar uma multa, cujo valor é determinado pelo Juiz.

"Esta é uma excelente decisão, e esperamos que venha a pôr um fim no sentimento de impunidade que alimenta os piores excessos", disse Stephane Lilti, advogado dos grupos que buscavam a decisão.

Já um porta-voz do Twitter declarou: "Estamos atualmente revendo a decisão do tribunal e decidindo se vamos apelar"

Segundo a Liga Internacional contra o Racismo e o Antissemitismo, "isto marca um passo decisivo na luta contra os crimes racistas, homofóbicos e antissemitas na Internet. Ninguém pode ignorar a lei francesa, nem mesmo os gigantes da economia americana digital."

"É um precedente importante e um avanço na tentativa de equilibrar a privacidade online com a necessidade de combater o discurso de ódio", disse Sacha Reingewirtz, vice-presidente da união dos estudantes Judeus franceses.
No ano passado, o Instituto de Estudos de Minorias Sexuais da Universidade de Alberta e os serviços de rastreamento de publicações do Twitter, mostraram que a palavra "bicha" foi usada mais de 2,5 milhões de vezes, entre julho e setembro de 2012. E em apenas uma semana, estava em 219.000 tweets.'


Falta agora a misognia e a apologia ao estupro de mulheres e crianças serem incluidas lá na França e aqui no Brasil

mas já é um passo

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Rádio Globo - Roberto Canazio - e pedofilia

‎[Repúdio a Rádio Globo e a MANHA DA GLOBO COM ROBERTO CANAZIO]

Basta de banalização de violência sexual! BASTA de culpabilização da vítima!
Hoje no período da tarde a Rádio Globo divulgou a notícia de que um homem de 40 anos foi preso depois de:

Se passar por diretores de televisão para atrair meninas de 12 anos:
Art. 307 - Atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa identidade para obter vantagem, em proveito próprio ou alheio, ou para causar dano a outrem:Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa, se o fato não constitui elemento de crime mais grave.

Para obter fotos e/ou contatos com elas:

Art. 241-B. Adquirir, possuir ou armazenar, por qualquer meio, fotografia, vídeo ou outra forma de registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente: (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)


Chantageá-las:

Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento: Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa.

E pelo visto houve o contato e o estupro (por meio de chantagem- fraude)de pelo menos de uma menina de 12 anos:

Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos: (Acrescentado pela L-012.015-2009)
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.

E depois o Sr. 'Radialista' ROBERTO CANAZIO faz a infame pergunta: "ROBERTO CANAZIO quer saber: ALGUMAS MENINAS DE 12 ANOS TÊM HOJE CORPO DE MULHER, PENSAR 'MALDADE' SERIA PEDOFILIA POR PARTE DOS HOMENS?"
alguns comentários fofos
 
 quem tem jeito ignorante Joel Alves?

dizem que é melhor poder ler isso que ser cego

Deixe o seu recado de repúdio também!
AQUI ->https://www.facebook.com/RadioGloboBrasil

Liberdade a acusados de estuprar menina indígena gera revolta

Postado em: 29 jan 2013 às 19:06
 

Suspeitos de estupro de indígena são soltos e medida causa revolta em Conselho Tutelar. Delegado de Borba diz que laudo médico não atestou evidência da violência sexual. Outro exame, contudo, confirma que houve “conjunção carnal”

Dois rapazes suspeitos de cometer estupro em uma menina indígena de 14 anos no município de Borba (a 151 quilômetros de Manaus) foram soltos na última sexta-feira, medida que causou revolta no Conselho Tutelar do Município. O delegado de Borba, Eunaudo Rodrigues, disse que soltou os rapazes porque o laudo do Hospital Dr. Galo Manuel Ibenezes, no município de Nova Olinda do Norte (a 135 quilômetros de Manaus), vizinho de Borba, “afastou a possibilidade de conjunção carnal”. O documento, que a reportagem teve acesso, de fato atesta esse resultado. A resposta foi negativa para outros itens envolvendo o exame.
menina indígena estupro borba AM
O crime ocorreu em Borba – AM (Foto: Reprodução)

O Conselho Tutelar de Borba, contudo, questiona a decisão do delegado, tendo em vista que um segundo laudo, feito no Hospital Vó Mundoca, para onde a garota foi transferida, confirmou a “conjunção carnal”, embora não tenha especificado a data do ocorrido (uma cópia deste documento também está em mãos da reportagem do portal). A instituição promete relatar o caso à Promotoria do Município (cujo titular só retorna em fevereiro, por estar atuando também em Manaus) e ao Ministério Público Federal (MPF) para pedir providências que esclareçam este caso, descrito por ela como “mal explicado”.

A conselheira tutelar (que não quer ter seu nome divulgado) disse que a história envolvendo o caso da menina “está estranha”, a começar pela demora do laudo feito em Nova Olinda do Norte ser entregue – somente nesta sexta-feira, dois dias após o exame.

 

Demora

A menina de 14 anos, da etnia munduruku, em depoimento dado ao Conselho Tutelar, foi violentada e agredida na última terça-feira, na comunidade Foz do Canumã, na jurisdição de Borba. Como a comunidade está localizada mais próxima de Nova Olinda do Norte, ela primeiramente foi atendida no hospital desde município, na mesma noite do ocorrido. Na quarta-feira, a garota foi transferida para Borba, onde novamente foi ouvida na delegacia e encaminhada para um hospital, o Vó Mundoca.
 
Na manhã desta sexta-feira, o delegado Eunaudo Rodrigues cogitava soltar os suspeitos porque, até então, apesar das inúmeras ligações feitas à delegacia de Nova Olinda do Norte solicitando o laudo do hospital, o documento ainda não tinha sido enviado.

A reportagem ligou para a delegacia de Nova Olinda e falou com o investigador Max, responsável pelo atendimento. Ele declarou que também estava encontrando dificuldade de obter o documento, apesar das inúmeras requisições feitas ao hospital.

A técnica de enfermagem Franciney Oliveira, da Casa de Apoio ao Indígena de Borba, que acompanhou a garota, e o pai da menina, Valdivino Palmelo, também tentaram obter o laudo, se dirigindo eles próprios à direção do hospital, sem sucesso.

Franciney afirmou ter estranhado a demora para o laudo ser entregue e apontou o “desinteresse” do hospital. “Fui lá de manhã e soube que o documento não estava nem digitado”, afirmou.

 

Trauma

O pai da garota estava desolado com a agressão e violência sofrida pela filha. Ele disse que a menina chegou a ficar em coma, mas se recuperou. “Ela continua com o pé desmentido (torcido). Foi um caso muito sério”, disse o pai.

Conforme a técnica de enfermagem, a menina indígena, após a agressão, foi encontrada inconsciente, com muita dor e incontinência urinária. “Dois rapazes foram detidos, mas a família acha que foram mais. Pelo que sei, os médicos constataram sim que houve a violência sexual”, disse ela, antes de saber o resultado do laudo, entregue à tarde deste sábado ao delegado de Borba.

A reportagem tentou falar com a menina por telefone, que está hospedada na casa de uma tia, em Borba, mas ela não conseguiu esboçar reação às perguntas feitas, limitando-se a murmurar palavras incompreensíveis. Segundo a tia, a garota está traumatizada.

Um tio da garota, que se identificou apenas como Chiquinho, disse que em junho de 2012, outro caso “mais feio ainda”, envolvendo outra menina indígena, também foi registrado, mas os suspeitos nunca foram investigados ou detidos. A conselheira tutelar afirmou que casos de violência sexual nas comunidades rurais e em aldeias indígenas são comuns em Borba, mas os suspeitos não são detidos.

 

Susam

Procurada para explicar sobre o laudo do exame da menina indígena, a assessoria de imprensa da Secretaria Estadual de Saúde (Susam) informou que o documento foi enviado pelo Hospital de Nova Olinda na tarde desta sexta-feira. O exame, segundo a assessoria, foi realizado apenas na quarta-feira, após pedido feito pela autoridade policial delegado do município. A assessoria não informou o motivo exato da demora para ser entregue, mas afirmou que o procedimento seguiu os trâmites normais.

sábado, 19 de janeiro de 2013

Um país de estupradores?



unisinos

Colonialismo e apartheid fizeram da África do Sul recordista em crimes sexuais, com 75,6 estupros por grupo de 100 mil habitantes. Após um período de negacionismo oficial e estigmatização, governo e sociedade reagem à epidemia, causada por uma conjunção de fatores sociais, políticos e culturais.
A reportagem é de Fábio Zanini e Laura Capriglione e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 27-06-2010.

"Ele se lembra, quando criança, de ler a palavra `rape`, estupro, em reportagens de jornal, tentando entender exatamente o que queria dizer, imaginando o que a letra p, sempre tão suave, estava fazendo no meio de uma palavra considerada tão horrenda que ninguém a falava em voz alta."

Assim como a letra p não parece se encaixar naquela palavra tão horrenda, o erudito David Lurie, professor de literatura que cai em desgraça, parece não se encaixar em seu país, dominado pela barbárie. Ele quer entender o que acontecera dias antes com sua filha Lucy, atacada por três homens no sítio em que vivia no interior da África do Sul.

Lurie é o personagem principal de "Desonra" (trad. José Rubens Siqueira, Companhia das Letras, 2000), o romance que deu ao sul-africano J.M. Coetzee (pronuncia-se "coutsía") seu segundo Booker Prize, o mais prestigioso das letras britânicas. O estupro da filha de Lurie simboliza ficcionalmente a onda de violência sexual que domina a África do Sul.

"Ele pensa em Byron", narra Coetzee, evocando o poeta romântico inglês da predileção de seu refinado personagem. "Entre as legiões de condessas e criadas em que Byron se enfiou havia sem dúvida aquelas que chamavam o ato de estupro. Mas sem dúvida nenhuma delas tinha por que temer terminar a sessão com a garganta cortada."


FORA DA FICÇÃO
Mais de dez anos depois da publicação do romance de Coetzee, o temor de ser estuprada e terminar com a garganta cortada não é exatamente uma situação ficcional. A poucos dias do início da Copa do Mundo, a ministra sul-africana das Mulheres, Juventude e Pessoas com Deficiências, Noluthando Mayende-Sibiya, fez um discurso inflamado na Cidade do Cabo. O objetivo era um só: advertir que o governo não toleraria episódios de violência sexual durante o campeonato.

Militante histórica do partido de Nelson Mandela, o Congresso Nacional Africano (CNA), Mayende-Sibiya, anunciou uma série de medidas contra a violência sexual: iluminação e limpeza dos locais potencialmente perigosos, campanhas de vigilância comunitária, policiamento preventivo, e criação de centros para acolher e cuidar de vítimas.

Também foi anunciada a construção de um parque no local em que foi encontrado, em janeiro, o cadáver decomposto de Masego Kgomo, no distrito de Soshanguve, a 45 km de Pretória, a capital administrativa da África do Sul. A ministra prometeu uma estátua em homenagem a Masego.

Aos 10 anos, ela foi sequestrada, torturada, estuprada e assassinada por um grupo de jovens negros. Segundo a polícia, uma sangoma, curandeira tradicional, teria estimulado o ataque.


CAMPEÃO MUNDIAL
Um relatório publicado pela ONU em 2002, com dados de 50 países, confere à África do Sul o vergonhoso título de campeão mundial de estupros. Logo depois vêm Canadá, EUA, Nova Zelândia e Suécia. É preciso cautela ao analisar esse tipo de dado: eles podem significar, por exemplo, que as mulheres desses países se sentem mais à vontade para dar parte na polícia. Os números sul-africanos, no entanto, são eloquentes.

Uma pesquisa patrocinada pelo próprio governo sul-africano mostrou que, em 2007, houve 75,6 estupros por grupo de 100 mil habitantes -cinco vezes o registrado na cidade de São Paulo. Nos 12 meses contados a partir de abril de 2008, foram mais de 70 mil queixas de crimes sexuais, aumento de 10,5% em relação ao período anterior.

Calcula-se que sejam muito mais, pois é comum que as vítimas de estupro se recusem a prestar queixa. Segundo a organização não-governamental Pessoas contra o Abuso de Mulheres, apenas um em cada nove estupros na África do Sul é denunciado à polícia. Entre eles, apenas 7% terminam em condenação.

Índices mais chocantes dão conta de um estupro a cada 30 segundos no país, ou 1,2 milhão de estupros por ano. Uma pesquisa divulgada no ano passado pelo Conselho de Pesquisa Médica da África do Sul, com base em entrevistas com 1.738 homens, aponta que um em cada quatro homens das Províncias de KwaZulu-Natal e do Cabo Oriental estaria envolvido em agressões sexuais, entendidas como sexo não consentido ou tentativa.


LENIÊNCIA OFICIAL
Rachel Jewkes e Naeema Abrahams, pesquisadoras do Grupo de Gênero e Saúde do Conselho de Pesquisa Médica, em Pretória, tentam explicar por que, afinal, esse tipo de violência tornou-se uma epidemia na África do Sul.
Segundo elas, existe um caldo cultural permissivo -a polícia pouco prende, a Justiça pouco age e a sociedade ainda desconfia que a vítima deu margem para ter sido estuprada. As pesquisadoras também relatam rastros de corrupção na polícia: "Quando, apesar de tudo, as denúncias são feitas, não é raro a polícia, em troca de uns trocados, `perder` documentos e laudos que comprovam o crime".

Em Gauteng, Província onde ficam Johannesburgo e Pretória, somente 17,1% das queixas de estupro resultam em julgamento - e apenas 6% em condenação. A leniência oficial termina por desencorajar novas denúncias, num círculo vicioso de impunidade.

É comum a própria polícia abandonar o caso, em geral, por deficiência na investigação. Em 78,4% das queixas, segundo o estudo "Tracking Justice" (Acompanhando a Justiça), feito a partir de boletins de ocorrência, o policial nem sequer pediu à vítima que descrevesse o agressor. Em 52,3% dos casos, o agressor jamais foi localizado.

Em entrevista à Folha, Bashir Hoosain, diretor-geral de Segurança e Proteção da Província do Cabo Oriental, admite que há problemas na coleta de provas e no trato com as vítimas. "Temos procurado aproximar a polícia da comunidade, trazendo pessoas para dentro das delegacias para debater conosco os problemas", diz ele. "O número de mulheres policiais também cresceu."


REAÇÃO ARMADA
A alegada tolerância em relação ao crime, numa sociedade já violenta após décadas de regime colonial e apartheid, teria gerado uma cultura do estupro.
Qualquer turista em Johannesburgo se impressiona com as ameaçadoras placas fixadas na fachada das casas: invariavelmente, fala-se em "reação armada". O assalto a residências está entre os principais medos na cidade, e em 90% dos casos os bandidos aproveitam para estuprar as moradoras, segundo a polícia local.

A impressão de impunidade, dizem as pesquisadoras, também facilita o surgimento das gangues de jovens que estupram e matam, que ficaram tristemente famosas na Cidade do Cabo no final do século 20. Mais do que na vítima, o foco dos agressores está nos cúmplices. A observação do ato funciona como rito de iniciação à vida adulta.

Um diálogo entre David Lurie, o personagem de J.M. Coetzee, e sua filha, estuprada por dois homens e um jovem, sintetiza o funcionamento das gangues: "Um excitava o outro. Deve ser por isso que fazem juntos. Como cachorros em bando". O pai então pergunta: "E o terceiro, o rapaz?". Lucy responde: "Estava lá para aprender".

Assim como aconteceu com Lucy em "Desonra", grande parte dos estupros ocorre dentro de casa. Há dois anos, o estudo "Tracking Justice" mostrou que em 25% dos casos o responsável é parente, namorado ou ex-namorado da vítima. Casos como o de Letta Majas, 39, moradora da favela de Alexandra, em Johannesburgo, são comuns.

"Toda sexta, meu namorado ia direto do trabalho para o bar", conta ela. "Chegava em casa às 23h, querendo sexo. Um dia, eu recusei, porque não queria dividir a cama com um bêbado de cerveja. Ele respondeu que era porque eu estava saindo com outro homem. Me jogou contra uma parede, me chutou e me estuprou."

Em Johannesburgo, há dezenas de "casas seguras" para mulheres como Letta, que não podem voltar para casa - ou serão estupradas. Em Alexandra, a Bombani Safe House funciona atrás de muros altos e arame farpado. A preocupação é com a privacidade de suas "clientes". Mais do que um eufemismo, a nomenclatura é uma tentativa de reduzir o estigma da vítima.


CURANDEIRISMO
Quando a epidemia de Aids explodiu na África do Sul, chegou-se a sugerir uma explicação "mágica": o surto de estupros de adolescentes seria ligado à crença de que o sexo com "virgens puras" poderia "limpar" o sangue de quem com elas se relacionasse. Rachel Jewkes e Naeema Abrahams têm uma explicação mais pragmática: "O mais provável é que os estupradores acreditem que, atacando uma virgem, tenham menos chances de contrair o vírus HIV".

Uma juíza que já atuou em vários casos baixou a voz para dizer à Folha em um restaurante de Johannesburgo: "Ninguém quer falar sobre isso, mas é terrível o envolvimento de curandeiros e curandeiras nesse tipo de crime. Ou praticam diretamente, ou pedem que outros o façam, a fim de aumentar seus supostos poderes". Segundo ela, o assunto virou tabu porque essas práticas religiosas pertencem à reclusa esfera da vida levada segundo os ditames tradicionais.

Até 2004, o então presidente sul-africano, Thabo Mbeki, da etnia xhosa, acusava de "racista" a estridência mundial a respeito da violência sexual no país. Em artigo publicado no site do Congresso Nacional Africano, ele escreveu: "Dizem que nossa herança africana na cultura, tradições e religiões faz de cada homem africano um potencial estuprador. É um ponto de vista que define todo o povo africano como selvagens bárbaros".

Mbeki investia contra a jornalista branca Charlene Smith - ex-militante antiapartheid, ela mesma estuprada em 1999 durante assalto a sua casa -, que escreveu no jornal "Sunday Independent" o artigo "O estupro tornou-se uma forma repugnante de vida em nossa terra".

Mbeki respondeu que, por trás das denúncias da epidemia de estupros na África do Sul, não existiria nada além da velha repetição dos estigmas que os colonizadores brancos e europeus sempre quiseram colar na pele negra. Segundo ele, o povo negro seria visto como um bando de "preguiçosos, mentirosos, de odor fétido, doentes, corruptos, violentos, amorais, sexualmente depravados, animalescos, selvagens -e estupradores".

A perigosa relação entre identidade nacional e barbárie já surgiu em outros contextos históricos e culturais. Depois do Holocausto, ainda há quem queira associar, por exemplo, os alemães a nazistas em potencial. Não há dúvida, porém, de que reuniram-se na Alemanha do Terceiro Reich condições específicas (algumas essencialmente culturais) que levaram o povo alemão à barbárie nazista. O que não significa afirmar que a barbárie esteja na identidade nacional alemã.

A ideia de "cada homem africano como um estuprador potencial" reaparece, com sinal invertido, no relatório "Qualquer um pode ser um estuprador", do Centro de Estudos da Violência e Reconciliação. O texto procura entender os fatores individuais, de relacionamento, comunitários e sociais que levam o país a se tornar campeão dos crimes sexuais.

Quando todos os fatores se conjugam, aí sim, "qualquer um pode se tornar um estuprador". Em qualquer país.


NEGACIONISMO
O então presidente Mbeki não negou apenas o problema do estupro. Sua mais famosa negação foi em relação à proliferação da Aids no país, que não passaria de invenção da indústria farmacêutica.

Citando uma tese do pesquisador americano Peter Duesberg, da Universidade da Califórnia, em Berkeley, e da Academia Nacional de Ciências dos EUA, ele sustentava que o vírus HIV não seria o causador da AIDS. A deficiência imunológica característica da doença seria uma decorrência da fome e dos problemas crônicos da saúde sul-africana -herança maldita do apartheid.

Em novembro de 2008, sem políticas de prevenção ou tratamento, a África do Sul bateu nos 365 mil mortos por Aids, 60% dos quais mulheres. Hoje, o vírus está no sangue de mais de 5 milhões de sul-africanos (a população é de 48 milhões).

O hospital Baragwanath, no bairro de Soweto, em Johannesburgo, é um gigante com mais de 4 mil leitos, considerado o maior da África. Lá, ainda não se atendem casos de estupro que não sejam acompanhados por lesões físicas graves: "O estupro é um problema menor para ser tratado aqui", disse o relações-públicas à reportagem da Folha, na semana passada. Muitos profissionais de saúde no país não veem a violência sexual como uma questão de saúde pública, embora ela acompanhe os índices de infecção por HIV.

Nas macas encostadas nas paredes de tijolinhos do pronto-socorro viam-se apenas pacientes negros -vários deles esqueléticos, com as feridas características dos doentes de Aids sem tratamento.


SURPRESA
E, no entanto, quando este texto é escrito, já se passaram 12 dias do início da Copa do Mundo. Todas as nove cidades-sede receberam 220 mil torcedores e turistas, fluxo várias vezes maior do que o habitual. E não se ouviu falar em onda de estupros.

A enfermeira Smangele Zulu, funcionária da clínica Zolach, em Soweto, especializada em primeiros socorros, arrisca uma hipótese: "Realmente está mudando o tratamento dispensado ao agressor e à vítima nos casos de estupro - mais rigor para o predador, mais acolhimento para a vítima". "Smangele" significa "surpresa" na língua tribal.

As políticas negacionistas em relação à Aids e ao estupro sofreram o seu maior revés numa trapalhada do zulu Jacob Zuma, presidente do país e polígamo (com três mulheres, 20 filhos e algumas namoradas). Em 2005, quando era o vice-presidente de Mbeki, Zuma foi acusado de estuprar uma mulher de 31 anos, soropositiva e amiga de longa data de sua família. Levado aos tribunais, Zuma disse que, sim, tivera relações sexuais com a mulher, mas por iniciativa dela. Acabou absolvido em 2006.

No tribunal, o promotor quis saber se Zuma havia usado preservativo. "Não." Perguntou-se então se o acusado não tivera medo de contrair o vírus da Aids. "Não, não havia risco, porque tomei uma ducha logo depois."

As organizações de prevenção à Aids e as feministas não demoraram a acusar Zuma de "irresponsável". Mas, depois do caso, viu-se que a necessidade do uso de preservativos jamais tinha sido tão discutida na África do Sul como naquela época.

Na disputa pelo controle do Congresso Nacional Africano, um fragilizado Zuma, às voltas com denúncias de corrupção, concordou em fazer uma composição política original: entregou 43% dos ministérios a mulheres, para conseguir o apoio de mais da metade do eleitorado sul-africano. O resultado imediato da manobra foram mulheres em situação de muito mais poder do que jamais na história sul-africana. E o fim do negacionismo.


REAÇÃO
O enterro da menina Masego Kgomo, em 16 de janeiro, contou com a presença da ministra da Mulher, Noluthando Mayende-Sibiya, da vice-ministra do Desenvolvimento Econômico, Gwen Mahlangu Nkabinde, do secretário da Província de Gauteng para a Segurança da Comunidade, Khabisi Mosunkutu, e da prefeita da cidade de Tshwane, Gwen Ramokgopa.

No cemitério Zandfontein, logo depois do popular Solly Moholo cantar uma canção gospel, seguida de hinos religiosos entoados pelo coral da escola onde Masego estudava, o secretário Mosunkutu repreendeu a comunidade. "Por que as pessoas que viram a menina gritar não fizeram nada?", perguntou ele. "Como é possível que o dono do bar aonde os agressores levaram uma menina de 10 anos não tenha percebido nada de errado?"

A mudança veio quando Mosunkutu condenou os assassinatos relacionados ao curandeirismo: "Tem gente se escondendo atrás da nossa cultura para perpetrar atos criminosos. Precisamos deixar claro que a nossa cultura não tem nada a ver com pedaços de corpos humanos para rituais `muti`", disse ele, referindo-se a "trabalhos" religiosos. "Isso não passa de criminalidade."

Corando, a prefeita de Tshwane, Gwen Ramokgopa, disse que é necessária a colaboração dos curandeiros tradicionais "corretos", para que sejam extirpados aqueles que cometem crimes em nome dos rituais "muti".

Não faltam tentativas canhestras de resolver o problema, como a campanha oficial "Masturbe-se, Não Estupre!", lançada em 2007, ou a "camisinha antiestupro", curioso invento da médica Sonnet Ehlers. O apetrecho é dotado de pequenas lâminas que supostamente ferem o agressor e inviabilizam a conclusão do ato - embora sua eficácia ainda esteja longe de ter sido comprovada.

O que está claro é que há uma reação institucional. Em junho de 2009, Mayende-Sibiya fez questão de levar sua solidariedade à família de Nadine Jantjies, menina de 7 anos que foi violentada e morta pelo tio, Manfred Swartz, que confessou o crime.

Na ocasião, a ministra Mayende-Sibiya disse: "Trago a mensagem de que este governo não tolerará mais crimes de violência sexual. E que trabalharemos para que a Justiça se faça da forma mais rápida possível."

No continuum da violência, segundo Vandana Shiva



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Até 16 de dezembro de 2012, Jyoti Singh Pandey era apenas uma estudante universitária de 23 anos a caminho de casa após uma sessão de cinema em Nova Délhi. Naquela noite, porém, foram-lhe brutalmente roubados o próprio corpo, a identidade, os direitos humanos. Estuprada por seis homens em um ônibus em movimento, com requintes sórdidos de tortura com uma barra de metal, a jovem indiana resistiu por 13 dias após a agressão – e morreu no dia 29 de dezembro. A Índia tremeu com enérgicas manifestações e protestos que se alastraram por diversas cidades do país.

A entrevisa é de Juliana Sayuri e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 13-01-2013.

Nessa semana, cinco homens foram acusados oficialmente perante a Justiça indiana – três se declararam inocentes. O sexto suspeito é um adolescente de 17 anos, que será julgado em uma corte juvenil. Enquanto os julgamentos se desenrolam a portas fechadas, resta a lembrança de Jyoti Singh Pandey como símbolo para as milhares de mulheres violentadas diariamente na Índia. "Jyoti detonou uma revolução social", diz a filósofa indiana Vandana Shiva.

Nascida em Dehradum, Vandana colaborou com organizações ambientalistas nos quatro cantos do mundo – África, Ásia, Américas e Europa. Atualmente vive em Nova Délhi, onde lidera o Research Foundation for Science, Technology and Ecology. Autora de Staying Alive: Women, Ecology and Survival in India (1988), Biopiracy (1997) e Water Wars (2002), entre outros, a filósofa mescla movimentos políticos alternativos, ideais ambientalistas, críticas econômicas, biotecnologia e bioética. Desse amálgama teórico saem suas principais ideias para defender os direitos das mulheres mundo afora.

"Se permaneço firme hoje é porque antes de mim outras pessoas lutaram contra a discriminação contra as mulheres", diz. "Meu avô iniciou a primeira escola para garotas na área rural de Uttar Pradesh. E queria transformá-la em uma faculdade. No estilo do Mahatma Gandhi, ele fez greve de fome para que a universidade fosse reconhecida pelo governo. Morreu nesse sacrifício. Um dia depois de sua morte, a instituição conquistou status de faculdade", ela conta ao Aliás. "E minha mãe e meu pai lutaram contra a discriminação de castas. Assim adotaram o nome neutro ‘Shiva’ para renunciar à identidade de casta deles. Minha mãe viveu uma vida tão independente quanto meu pai. Foi um exemplo que tornou a igualdade de gêneros uma condição vital para mim", diz.

Ecofeminista premiada com o Right Livelihood Award – considerado o Nobel da Paz alternativo –, Vandana escreveu um ensaio em tributo a Jyoti Singh Pandey no dia 29 de dezembro. Para pensar a questão feminina (e a brutalidade da violência contra as mulheres no país), a autora extrapola as fronteiras culturais e leva a discussão aos campos da economia e da política.

Eis extratos do texto.


Perversas tradições
"A violência contra as mulheres é tão antiga quanto o patriarcalismo na Índia. O patriarcalismo tradicional estruturou nossas visões de mundo e nossas mentes. Moldou o universo sociocultural indiano na dominação sobre as mulheres, negando-lhes a humanidade e o direito à igualdade. No entanto, essa dominação se intensificou e se tornou mais perversa recentemente, tomando formas mais brutais, como a morte de Jyoti Singh Pandey, em Nova Délhi, e o suicídio de uma garota de 17 anos, também vítima de estupro coletivo, em Chandigarh. Casos de estupro e violência contra as mulheres dispararam nos últimos anos. O National Crime Records Bureau registrou 10.068 casos de estupro em 1990, número que saltou para 16.496 em 2000. Em 2011, foram 24.206 estupros – um incrível aumento de 873% desde 1971, quando a instituição começou a registrar esses casos. Assim, Nova Délhi emergiu como a capital do estupro na Índia, respondendo por 25% dessas ocorrências. Até que se faça justiça por nossas filhas e nossas irmãs violentadas, o movimento contra a violência não pode parar. E, enquanto intensificamos nossa luta por justiça, também precisamos questionar: Por que os casos de estupro cresceram 240% desde 1990, época em que as novas políticas econômicas foram introduzidas no país? Há uma relação entre os crimes contra as mulheres (mais intensos, mais brutais) e a economia (imposta, injusta e insustentável)? Acredito que sim.

 

O auge da intempérie

"Não estou sugerindo que a violência contra as mulheres comece com as políticas econômicas neoliberais. Estou consciente do preconceito de gêneros arraigado na sociedade indiana tradicional. Permaneço firme hoje, pois, antes de mim, outras pessoas lutaram contra as exclusões contra mulheres e crianças. Meu avô sacrificou sua vida pela igualdade feminina. Minha mãe foi uma ‘feminista’ antes de a palavra sequer existir. Mas quero dizer que a violência contra as mulheres tomou uma nova e mais perversa forma, a partir do cruzamento de duas linhas: as estruturas patriarcais tradicionais e as estruturas capitalistas emergentes. Precisamos pensar nas relações entre a violência do sistema econômico e a violência contra as mulheres. Para ilustrar: intempéries sempre aconteceram. Mas como mostram o superciclone Orissa, os ciclones Nargis e Aila, os furacões Katrina e Sandy, a intensidade e a frequência desses desastres se transformaram com as mudanças climáticas. Na mesma linha, nossa sociedade sempre discriminou crianças meninas. Mas e a epidemia de feticídio feminino? E o desaparecimento de 30 milhões de garotas nem nascidas? Levaram essa discriminação a novas proporções. À violência mais brutal e mais perversa – e relacionada aos processos alavancados pelo modelo econômico.

 
Dois pesos, duas medidas
"O modelo econômico míope, com foco no ‘crescimento’, desconsidera a contribuição das mulheres para a economia. Quanto mais argumenta, ad nauseum, sobre o ‘crescimento inclusivo’ e ‘inclusão financeira’, mais o governo exclui as contribuições femininas para a economia e a sociedade. Isso porque, de acordo com os modelos econômicos patriarcais, a produção para subsistência é considerada ‘não produção’. Do valor em ‘não valor’, do trabalho em ‘não trabalho’, do conhecimento em ‘não conhecimento’, essas transformações são engendradas pelo mais poderoso número que dita nossas vidas: o produto interno bruto, uma ideia patriarcal – que muitos comentaristas passaram a chamar de ‘problema interno bruto’. Medidas assim se ancoram na ideia que se os produtores consomem o que eles mesmos produzem... Eles não produzem nada, de fato, porque ficam fora das fronteiras da produção. Esses modelos são construções políticas que, na sua própria dinâmica, excluem os ciclos de produção regenerativa e renovável. Por isso, todas as mulheres que produzem para sustentar suas famílias e crianças, suas comunidades, são tratadas como ‘não produtivas’ e ‘inativas’ economicamente. Quando a economia é confinada ao mercado, a economia autossustentável é vista como uma lacuna. A desvalorização do trabalho das mulheres é o resultado natural de um modelo de produção construído pelo patriarcalismo capitalista. Ao se restringir aos valores da economia de mercado, esse modelo ignora a importância (e o valor econômico) de duas esferas vitais para a sobrevivência humana: a economia sustentável e a economia da natureza. Nesses modelos alternativos, o valor econômico mede como são preservadas a vida humana e a vida na Terra. Isto é, nesse sistema, a moeda é a vida – não o dinheiro ou o preço de mercado.

 
A cultura do estupro
"Esse modelo patriarcal distancia as mulheres das fontes naturais das quais dependem – a terra, a floresta, as sementes e a biodiversidade. Reformas econômicas ancoradas na ideia de crescimento ilimitado num mundo limitado só podem ser mantidas com os poderosos arrebatando recursos dos vulneráveis. O ‘roubo’ de recursos, essencial para o tal crescimento, cria uma cultura do estupro: o estupro da Terra e das mulheres. Esse crescimento só é ‘inclusivo’ por incluir mais e mais números nesses círculos de violência. Noutras vezes, destaquei repetidamente que o estupro da Terra e o estupro das mulheres estão intimamente relacionados, tanto metaforicamente quanto materialmente. Primeiro, por moldar visões de mundo. Segundo, por moldar a vida cotidiana das mulheres. Uma vez vulneráveis economicamente, as mulheres se tornam mais vulneráveis a outras formas de violência, como a agressão sexual. Isso nós podemos observar durante uma série de audiências públicas sobre o impacto das reformas econômicas nas mulheres. Esses encontros foram organizados pela National Comission on Women e pela Research Foundation for Science, Technology and Ecology.

 
Na raiz do abismo

"Ainda sobre as relações entre a violência e o modelo econômico. As reformas nos levaram à subversão da democracia e à privatização do governo. O governo comenta a economia como se nada tivesse a ver com a política e o poder. Ora, os sistemas econômicos influenciam os sistemas políticos. É imposto um modelo econômico moldado de acordo com interesses políticos de uma classe e de um gênero em particular. É uma convergência de poderes econômicos e políticos que agravam as desigualdades e acirram a distância entre a classe política e o desejo da sociedade que, teoricamente, eles deveriam representar. Isso está na raiz da ruptura entre políticos e a sociedade, tal como vivenciamos durante os protestos desde o estupro coletivo de Nova Délhi. Pior ainda, temos uma classe política alienada que teme seus próprios cidadãos. Isso justifica o crescente uso da força policial para esmagar manifestações civis não violentas, como testemunhamos em Délhi. Ou na tortura de Soni Sori, em Bastar (presa em 2011, a ativista disse que foi torturada e violentada sexualmente por policiais de Chhattisgarh). Ou na prisão de Dayamani Barla, em Jhakhand (presa em 2012, a jornalista foi acusada de perturbar a lei e a ordem ao liderar protestos em anos anteriores). Ou nas milhares de agressões a comunidades que lutam contra a usina nuclear em Kudankulam. Por isso, os políticos se cercam de seguranças VIP, desviando a polícia de seus deveres importantes, como proteger mulheres e cidadãos comuns.

 
Commodity geral
"Além disso, o modelo econômico atual transforma tudo em commodities. Tudo, incluindo as mulheres. As sementes, a terra, a comida, as mulheres, as crianças. Alavancado pela liberalização econômica, tudo se transforma em commodities. Isso degrada os valores sociais, acirra o patriarcalismo e intensifica a violência contra as mulheres. Nós paramos uma reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC) em Seattle, com o slogan: ‘Nosso mundo não está à venda’. Essa é a ideia. Sistemas econômicos influenciam valores culturais e sociais. E uma economia de commodities cria uma cultura de commodities, onde tudo tem um preço. E nada tem valor.

 
Entre quereres e poderes
"Assim, a cultura do estupro é um sintoma das mudanças decorrentes da economia neoliberal. Precisamos de auditorias sociais para as políticas econômicas em nossos tempos. Se tivéssemos uma auditoria sobre a corporativização do setor de sementes, 270 mil fazendeiros não teriam sido empurrados ao suicídio na Índia. Se tivéssemos uma auditoria sobre a corporativização da agricultura, não teríamos um em quatro indianos faminto, uma em três mulheres mal nutrida, uma em duas crianças definhando devido a severa desnutrição. Talvez assim, a Índia não fosse a ‘república da fome’, tal como escrevera Utsa Patnaik (economista marxista da Jawaharlal Nehru University). Vítima do estupro coletivo em Nova Délhi, Jyoti Singh Pandey detonou uma revolução social. Uma revolução que devemos apoiar, aprofundar, ampliar. Devemos exigir rápida e efetiva justiça para as mulheres, com leis novas e tribunais mais ágeis para condenar os responsáveis por esses crimes. Devemos ver o continuum das diferentes formas de violência contras as mulheres: o feticídio feminino, a exclusão econômica, as agressões sexuais. Precisamos dar continuidade ao movimento por reformas sociais para garantir a igualdade e a segurança das mulheres. Isso deve ser construído nos pilares fundados com o movimento de independência e o movimento feminista nos últimos 50 anos. E, enquanto fazemos tudo isso, precisamos mudar o paradigma em vigor. Economia e sociedade não estão isoladas. As reformas nesses dois campos não podem mais ficar separadas. Para dar fim à violência contra as mulheres, também precisamos mudar. Mudar de uma economia capitalista violenta para economias sustentáveis e pacíficas, que respeitem as mulheres e, no limite, a própria Terra."


Veja também: Entre o coice e o estigma. Artigo de Debora Diniz

Quase 1 entre 5 mulheres sofreram ataque sexual, diz levantamento americano

15 de Dezembro de 2011

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Um amplo levantamento do governo norte-americano sobre estupro e violência doméstica, divulgado na última quarta-feira (14), afirma que a violência sexual contra as mulheres permanece endêmica nos Estados Unidos e, em alguns casos, muito mais comum do que antes se imaginava.

A reportagem é de Roni Caryn Rabin, publicada pelo The New York Times e reproduzida pelo portal Uol, 15-12-2011.

Quase 1 entre 5 mulheres entrevistadas disse já ter sido estuprada 
ou ter experimentado uma tentativa de estupro a certa altura, 
e 1 entre 4 relatou ter sido agredida fisicamente por um parceiro íntimo. Uma entre 6 mulheres já foi perseguida, segundo o relatório.

"O fato de quase 1 entre 5 mulheres já ter sido estuprada é impressionante e, eu acho, surpreenderá muitas pessoas", disse Linda C. Degutis, diretora do Centro Nacional para Prevenção e Controle de Ferimentos, dos Centros para Controle e Prevenção de Doenças (CDC), que realizou o levantamento. "Eu não acho que realmente sabíamos que isso era tão predominante na população."

O estudo, chamado Levantamento Nacional da Violência Sexual e por Parceiro Íntimo, teve início em 2010 pelos CDC com o apoio do Instituto Nacional de Justiça e do Departamento de Defesa. O estudo, um levantamento contínuo por telefone de uma amostra nacional representativa de 16.507 adultos, define parceiro íntimo e violência sexual em termos gerais.

Os pesquisadores obtiveram informação sobre os tipos de agressão, não previamente estudados em levantamentos nacionais, incluindo violência sexual fora estupro, agressão psicológica, coerção e controle da saúde sexual e reprodutiva.

Eles também coletaram informação sobre a saúde física e mental dos sobreviventes de violência.

A violência sexual afeta as mulheres desproporcionalmente, apontaram os pesquisadores. Um terço das mulheres disse ter sido vítima de estupro, agressão física, perseguição ou uma combinação das agressões.

Os pesquisadores definiram estupro como sendo penetração forçada completa, penetração forçada facilitada por drogas ou álcool, ou tentativa de penetração forçada. Segundo essa definição, 1% das mulheres entrevistadas relatou ter sido estuprada no ano anterior, um número que sugere que, anualmente, 1,3 milhão de mulheres americanas podem ser vítimas de estupro ou tentativas de estupro.

Esse número é significativamente superior do que as estimativas anteriores. A Rede Nacional de Estupro, Abuso e Incesto estimou no ano passado que 272.350 americanos foram vítimas de violência sexual. E apenas 84.767 ataques definidos como estupros forçados foram relatados em 2010, segundo as estatísticas nacionais do FBI.

Mas os homens também relataram ser vítimas em números surpreendentes.

Um entre sete homens já experimentou violência severa pelas mãos de um parceiro ou parceira íntima, apontou a pesquisa, e 1 entre 71 homens –entre 1% e 2% – já foi estuprado, muitos quando tinham menos de 11 anos.

A grande maioria das mulheres que disseram ter sido vítimas de violência sexual, estupro ou perseguição relatou sintomas de transtorno de estresse pós-traumático, assim como cerca de um terço dos homens.

As mulheres que experimentaram essa violência também apresentavam maior probabilidade do que as mulheres que não de terem asma, diabete ou síndrome do intestino irritável. Tanto homens quanto mulheres que foram agredidos apresentavam maior probabilidade do que as pessoas que não foram de relatar dores de cabeça frequentes, dor crônica, dificuldade para dormir, limitações em atividades e má saúde física e mental.

"Nós já vimos essa associação com condições crônicas de saúde em estudos menores", disse Lisa James, diretora de saúde do Futuros Sem Violência, um grupo nacional sem fins lucrativos com sede em San Francisco, que defende programas para colocar um fim à violência contra as mulheres e meninas. "As pessoas que crescem com violência adotam estratégias para lidar com ela que podem levar a uma saúde ruim. Nós sabemos que as mulheres em relacionamentos abusivos apresentam maior risco de fumar, por exemplo."

O levantamento apontou que a própria juventude é um importante fator de risco para violência sexual e agressão. Aproximadamente 28% dos homens que foram vítimas de estupro relataram ter sido atacados quando tinham menos de 10 anos.

Apenas 12% das vítimas de estupro do sexo feminino foram atacadas quando tinham 10 anos ou menos, mas quase metade das vítimas do sexo feminino foi estuprada antes de completar 18 anos. Cerca de 80% das vítimas de estupro relataram ter sido estupradas antes dos 25 anos.

O estupro em uma idade jovem foi associado com outro estupro posterior; cerca de 35% das mulheres que foram estupradas quando eram menores também foram estupradas na idade adulta, apontou o levantamento.

Mais da metade das vítimas de estupro do sexo feminino foi estuprada por um parceiro íntimo, segundo o estudo, e 40% foram estupradas por uma pessoa conhecida; mais da metade dos homens que foram estuprados disse que o agressor era uma pessoa conhecida.

A divulgação do relatório foi adiada duas vezes, mais recentemente em 28 de novembro. Os resultados foram baseados em entrevistas completas que duraram cerca de 25 minutos cada; elas foram conduzidas em 2010 com 9.086 mulheres e 7.421 homens.

O estupro como arma de guerra

26 de junho de 2010

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Um mês depois de começar minha primeira viagem pelo Congo, palco do conflito mais mortífero desde a 2.ª Guerra, eu já tinha ouvido um considerável número de histórias de horror - do canibalismo forçado a casos em que habitantes de vilarejos inteiros foram queimados vivos. Tornei-me cada vez mais resistente ao choque de tais relatos. Mas uma conversa com uma funcionária de agência humanitária me deixou perplexa.

O artigo é de Lisa Shannon, escritora e fundadora da Organização Run for Congo Women, publicado pelo jornal The International Herald Tribune, e reproduzido n`O Estado de S. Paulo, 26-06-2010.

Em fevereiro de 2007 cheguei a Baraka, cidade às margens do Lago Tanganica repleta de soldados congoleses e funcionários de agências internacionais de ajuda humanitária. Perguntei a uma despenteada europeia que trabalhava para a ONU sobre a segurança no local. Entusiasmada, ela descreveu seu projeto de estimação, uma campanha em vídeo para convencer os refugiados na vizinha Tanzânia de que era seguro voltar para casa. "As milícias estrangeiras foram embora", disse ela. "No momento há apenas estupros e saques. Acabaram-se os ataques." Perplexa, perguntei a ela se a alta incidência de estupros não seria considerada um risco à segurança. "Aqui, os estupros são muito comuns", disse ela. "É uma questão cultural."

Esta foi a primeira de muitas vezes em que ouvi a importância dos estupros em massa no Congo ser reduzida para "algo cultural". A violência sexual no Congo está entre as piores do mundo. A ONU estima que centenas de milhares de mulheres tenham sido vítimas de estupros, tortura e escravidão sexual desde o início do conflito, em 1998. Foi naquele ano que grupos armados começaram a se comportar como máfias, lutando pelo controle dos minerais no leste do Congo. Para garantir o controle sobre o território, as milícias usam o estupro como arma.

Em maio, o Senado americano incluiu em sua proposta de lei para a regulação financeira um dispositivo exigindo das empresas públicas que se certifiquem de não comprar minerais extraídos das minas controladas pelos milicianos no Congo. Tais iniciativas são bem-vindas, ainda que aprovadas tão tardiamente.

 Ainda assim, nós, ocidentais, temos o desagradável hábito de facilitar as coisas e enxergar o estupro como uma parte aceita de uma cultura estranha, e não como uma ferramenta de guerra que poderíamos ajudar a banir. Com frequência, transformamos os homens congoleses no inimigo, sem distingui-los daqueles que andam armados aterrorizado a população. Ao representar a violência como um conflito entre "homens e mulheres" ou reduzir a importância da crise como traço "cultural", cometemos uma grande injustiça com os homens congoleses. Em vez de ajudar, fazemos a eles um insulto implícito: sentimos muito, mas... bem, é assim que vocês são.

Esta percepção é muito difundida. Trabalho constantemente com congolesas, e me vejo dedicando muito tempo à defesa dos homens congoleses, seja durante um churrasco ao discutir com um bilionário sobre os "rituais tribais africanos de estupro" ou ao participar de um painel ao lado de um defensor dos direitos humanos que não para de falar a respeito das "raízes culturais da violência sexual no Congo".

Recentemente, a representante especial da ONU para os casos de violência sexual em situações de conflito, Margot Wallstrom, descreveu esta mentalidade como "a duradoura percepção da violência sexual como tradição, e não como tática deliberadamente escolhida".

Qualquer congolês pode lhe dizer que o estupro não é "tradicional". O crime existia no Congo antes da guerra, assim como em outras partes do mundo. Mas a proliferação da violência sexual deu-se com a guerra. Agora, tanto milicianos quanto soldados congoleses usam o estupro como arma. Na ausência de autoridade que a coibisse, a violência sexual assolou o leste do Congo, palco de seguidos combates. Isto não faz do estupro algo cultural; torna-o fácil de cometer. Existe uma diferença entre as duas coisas.

Os analistas costumam falar em "cultura de impunidade" para descrever o Congo. John Prendergast, que trabalhou por 25 anos em zonas africanas de conflito, explica: "O estado de direito desfaz-se e os perpetradores passam a cometer crimes sem temer a condenação e o castigo. Com o tempo, isto leva a um colapso maior dos códigos da sociedade e do próprio tecido social de uma comunidade."

A mídia, os funcionários das ONGs e os ativistas omitem consistentemente as histórias de homens congoleses que foram mortos por combatentes ao ter se recusado a estuprar. Descrever a violência no Congo como algo "cultural" é mais do que ofensivo. É perigoso. A funcionária europeia que descreveu a violência como traço "cultural" estava, com isso, sugerindo que as mulheres congolesas devem ter a expectativa de ser estupradas e se omitindo da responsabilidade de alertar as refugiadas sobre a ameaça à sua segurança.

Quando rotulamos o estupro no Congo como algo "cultural", estamos nos eximindo de toda responsabilidade. E isto é uma questão cultural. Um traço da nossa cultura.

STJ: qualquer estupro é crime hediondo

02 de outubro de 2012

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O Superior Tribunal de Justiça (STJ) definiu, por unanimidade, que o crime de estupro é hediondo, mesmo sem morte ou grave lesão da vítima. A Corte divulgou ontem a decisão, após o Estado informar que a questão havia sido reaberta no dia 17, de forma a unificar decisões em todo o País.

A reportagem é de Luciano Bottini Filho e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 02-10-2012.

Com o julgamento da 3.ª Seção, os condenados por estupro em qualquer circunstância estão obrigados a cumprir a pena da forma mais severa. Por exemplo: só poderão ter o direito à progressão de regime após 2/3 de pena. Nos outros crimes, a progressão ocorre entre 1/3 e 1/2.

De acordo com os ministros do STJ, a lei penal aplicada tem a função de proteger a liberdade sexual, sendo desnecessária a ameaça à vida ou à integridade física da vítima. E essa não é a primeira vez que um tribunal superior afirma que o estupro é crime hediondo: em 2001, o Supremo Tribunal Federal (STF) já havia se manifestado nesse sentido, mas na época suas decisões não eram vinculantes (que valem para todas as instâncias). O STJ também já se posicionou anteriormente dessa maneira, mas só agora o tema terá a sua jurisprudência unificada.

A decisão fará outros processos suspensos nos Tribunais de Justiça de todo País chegarem ao mesmo entendimento. Ela também unifica o resultado de recursos que chegarem ao STJ.

O julgamento valerá para casos ocorridos antes de agosto de 2009, quando a nova lei incorporou o atentado violento ao pudor (ato sexual sem penetração) ao estupro. Essa mudança havia suscitado dúvidas entre os especialistas sobre a necessidade de lesão corporal ou morte da vítima.

O processo que deu origem à decisão chegou ao STJ depois de um recurso do Ministério Público de São Paulo contra um acórdão do Tribunal de Justiça que permitiu a um condenado por atentado violento ao pudor ter o início da pena no semiaberto. O MP alegou que a pena deveria começar em regime fechado - o que se reafirmou agora.

Para o criminalista e deputado estadual Fernando Capez (PSDB-SP), o resultado do julgamento era esperado. "A lei é clara ao considerar toda a forma de estupro como hediondo. Quando os crimes sexuais foram fundidos no estupro, eles (réus) tentaram mudar a orientação, mas a lei não alterou nada. Não há razão para rediscutir."

Casos
Em São Paulo, foram registrados 1.184 casos de estupro em agosto, o maior número desde o início da divulgação mês a mês, em janeiro de 2011.

CNJ abre processo disciplinar contra juiz que criticou Lei Maria da Penha

Lei Maria da Penha

Novembro de 2010

ersadvocacia


O juiz de Sete Lagoas (MG), Edílson Rumbelsperger Rodrigues, que considerou inconstitucional a Lei Maria da Penha, sofrerá processo administrativo disciplinar. Foi o que decidiu o plenário do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) na sessão de julgamento desta terça-feira (20/11/2010).

O caso foi encaminhado ao corregedor nacional de Justiça do CNJ, ministro César Asfor Rocha, que votou pela revisão disciplinar. O voto contrariou o entendimento da Corregedoria do TJ-MG (Tribunal de Justiça de Minas Gerais) que havia arquivado o caso com o argumento da cláusula de tutela da atividade jurisdicional, segundo a qual o juiz não pode ser punido por suas decisões.

Em seu voto, o ministro Asfor citou jurisprudência do STF (Supremo Tribunal Federal), que estabelece que a imunidade da sentença judicial não é absoluta e sim parcial. Ou seja, o juiz tem o direito de decisão, mas deve ponderar como fazê-las.

O ministro assinalou que o magistrado não deve ser acusado por ato ilegal, mas a sentença teve cunho preconceituoso e que Rodrigues cometeu “excessos de linguagem” em sua decisão.

A independência da atuação dos magistrados foi defendida pelo conselheiro Oreste Dalazen. Mas ele ponderou que "o exercício da magistratura não é um sinal verde para expressão de preconceitos e destemperança verbal".

O conselheiro Jorge Maurique complementou: "o ato do juiz é um ato do Estado. Ao Estado não é reservado o rancor, a raiva e o preconceito".

A instauração do procedimento foi aprovada por unanimidade. O caso será distribuído a um dos conselheiros que investigará e apresentará relatório ao plenário do CNJ. Segundo a assessoria de imprensa do CNJ, isso deve ocorrer até a próxima semana.

Preconceito
O juiz Edílson Rumbelsperger Rodrigues, em despacho, considerou inconstitucional a Lei Maria da Penha, negando-se a aplicá-la. Em sua decisão, o juiz fez afirmações polêmicas: escreveu, por exemplo, que "a desgraça humana começou no Éden: por causa da mulher".

Escreveu ainda que "a mulher moderna - dita independente, que nem pai para seus filhos precisa mais, a não ser dos espermatozóides - assim só é porque se frustrou como mulher, como ser feminino".

Alegando ver "um conjunto de regras diabólicas" e lembrando que "a desgraça humana começou por causa da mulher", o magistrado rejeitou a adoção de medidas contra homens acusados de agredir e ameaçar suas companheiras.
 
Fonte: Última Instância

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Estupro e Impunidade: O caso que chocou Florianópolis e o Brasil



a declaração do delegado não poderia ser mais torpe



 

 A "conjunção carnal" do delegado de SC

"Reapareceu a teoria segundo a qual não existe estupro, existem mulheres mal comportadas", comenta Elio Gaspari, jornalista, em artigo publicado nos jornais Folha de S. Paulo e O Globo, 11-07-2010.

Eis o artigo.

No dia 14 de maio, uma garota de 13 anos encontrou-se com um amigo num shopping de Florianópolis e foi ao seu apartamento, onde vive com a mãe e o padrasto. Ele tem 14 anos e é filho de Sérgio Sirotsky, diretor do Grupo RBS de comunicação em Santa Catarina. A empresa, pertencente à sua família, controla 46 emissoras de televisão e rádio e oito jornais diários no Sul do país.

O que aconteceu no apartamento do garoto não se sabe com precisão, pois o inquérito policial e o processo correm em segredo de Justiça. Durante a investigação, quem devia preservar o sigilo permitiu que ele vazasse.

A jovem contou em seu depoimento que foi estuprada por um ou dois rapazes, ambos menores. Além do dono do apartamento, denunciou o filho de um delegado. Medicada num hospital, deu queixa à polícia e submeteu-se a um exame de corpo de delito. Nos últimos dez dias, o caso explodiu na internet.

A família Sirotsky publicou um comunicado informando a ocorrência do "lamentável episódio", lembrando que "confia integralmente nas autoridades policiais".

Para que se possa confiar mais nessas autoridades, o secretário de Segurança de Santa Catarina deve exonerar o delegado Nivaldo Rodrigues, diretor da Polícia Civil de Florianópolis. Numa entrevista gravada, ele disse o seguinte:
"Eu não posso dizer que houve estupro. Houve conjunção carnal. Houve o ato. Agora, se foi consentido ou não, se foi na marra, ou não, eu não posso fazer esse comentário, porque eu não estava presente".

A declaração do delegado é uma repetição da protofonia das operetas que começam investigando casos de estupro e terminam desgraçando quem os denuncia.

Noutra entrevista, com o inquérito concluído, o doutor informou que "o caso investigado é de estupro", mas ao especular (indevidamente) sobre a motivação do ocorrido informou: "Amizade, se encontraram, resolveram fazer uma festa. Se foi na marra, não sei".

Falta o delegado definir "marra". É crime manter relações sexuais com menores. Se isso fosse pouco, segundo a denúncia, podem ter sido dois os rapazes que usufruíram a "conjunção carnal". Se o delegado não podia dizer se o ato foi "consentido ou não", devia ter ficado calado. Afirmar que não pode opinar porque "eu não estava presente" beira o deboche.

Existe uma razoável literatura sobre estupros de grupo. Em geral, ocorrem quando a vítima está alcoolizada ou drogada, o que torna despicienda a questão do consentimento.

Se o doutor Nivaldo sair virgem do episódio, os catarinenses perderão um pouco de sua segurança, triunfarão as teorias conspirativas sobre a impunidade do andar de cima e prevalecerá uma racionalização do crime: não há estupros, há mulheres que não sabem se comportar. (Exceção feita às mães dos defensores dessa doutrina, e que Santa Maria Goretti proteja suas filhas.)

'Ela me pertence'. A violência contra a mulher.


unisinos

27/07/2010

Entrevista especial com Ângela Maria Pereira da Silva

Ao refletir sobre os crimes de violência contra a mulher, a assistente social Ângela Maria Pereira da Silva define o ato como "um ato de posse, de total possessividade em relação a outro indivíduo, é uma despersonalização do outro. Eu posso dizer que eu sou dona da minha caneta, mas eu não posso dizer que eu sou dona do desejo de outra pessoa".

Em entrevista à IHU On-Line, concedida por telefone, ela fala sobre a realidade do centros de atendimento à mulher que vive uma situação de violência e aponta alguns pontos falhos na Lei Maria da Penha e na atuação das equipes das delegacias da mulher. "Percebemos que, na prática, a realidade é diferente do que preconiza a norma. Nós ainda precisamos avançar muito em relação à rede de proteção à mulher. Até mesmo para que haja aplicabilidade da lei dentro do prazo que ela estipula, que seriam de 48 horas para conceder ou não uma medida protetora de emergência", revela.

Ângela Maria Pereira da Silva é, atualmente, docente da Fundação Saint Pastous (Porto Alegre/RS) e assistente social da Secretaria Estadual de Assistência Cidadania e Inclusão Social e do Centro Jacobina (São Leopoldo/RS). Realizou o curso de Serviço Social na Universidade Luterana do Brasil (Ulbra). É especialista em Gestão do Capital Humano, pela Faculdade Porto-Alegrense de Educação Ciências e Letras (Fapa), e obteve o título de mestre em Serviço Social, pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS).

Confira a entrevista.

IHU On-Line – A cada 2 horas uma mulher é assassinada no Brasil. Que regiões sofrem mais com o problema da violência contra a mulher?
Ângela Maria Pereira da Silva – Eu atribuo esta realidade a questão da impunidade do homem que está em situação de violência. A aplicabilidade da Lei Maria da Penha, neste sentido, faz muita diferença. Além da impunidade, outro aspecto importante neste contexto é a questão sócio-cultural da violência entre homens em relação às mulheres. No Rio Grande do Sul, avançamos muito, mas ainda, todos os dias, presenciamos novos fatos de óbito de mulheres por situações de violência doméstica. Entre 2009 e 2010, em São Leopoldo, já tivemos alguns assassinatos, inclusive com requintes de crueldade, de homens que também se sentiram acima da lei e vieram a assassinar mulheres da própria família.


IHU On-Line – Existe um perfil deste homem?
Ângela Maria Pereira da Silva – Não tem como caracterizá-lo. Na realidade, há uma série de fatores que conspiram e que contribuem para uma postura mais agressiva por parte do homem, o que não justifica a prática da violência. Percebemos que muitos dos homens que estão cometendo atos violentos já passaram por situações de violência nas suas próprias vidas, já vêm de lares aonde houve situações de violência contra a mulher e acabam perpetuando isto em suas próprias famílias.

Então, na verdade, esses homens não conseguem ressignificar esta relação de sofrimento e acabam reproduzindo isto com filhos e com suas companheiras. Também temos um número crescente de pessoas que acabam se vinculando à substância psicoativas, o que desperta um comportamento mais agressivo em algumas pessoas. Além disso, o quadro da pobreza e da miserabilidade também afeta o nível de estresse das pessoas e, muitas delas, buscam a força para fazer valer os seus desejos sobre o outro.


IHU On-Line – Por que as mulheres ainda têm medo de denunciar?
Ângela Maria Pereira da Silva – Há um número cada vez mais ampliado de mulheres que estão rompendo com este silêncio. Aqui no Centro Jacobina [1], constatamos que ainda existem fatores que interferem nesse rompimento do silêncio, tais como a dependência econômico-financeira, a questão de não ter uma rede de apoio afetiva, onde a mulher possa recorrer em um episódio de violência. Existe também o fator de um amor que causa perplexidade, é um amor que fere, que maltrata, mas que a mulher quer manter. Nem todos os homens que cometem a violência são os companheiros. Já recebemos denúncias contra netos, filhos, e, às vezes, até mesmo de um empregador. Mas, no âmbito da família, o que nós percebemos é que é uma relação que idealizada pela mulher que, quando acontece uma situação de violência, se desorienta de tal maneira que ela encontra justificativa para os atos do homem.

 
IHU On-Line – A violência contra a mulher em ambientes que não são familiares se dá de que forma?
Ângela Maria Pereira da Silva – Nós já atendemos situações de violência sexual que acontecem na rua, ou seja, mulheres indo ou retornando do trabalho que foram abordadas e foram violentadas no caminho. Também já denunciaram violência no âmbito do trabalho, ou porque engravidaram e foram constrangidas por isso ou porque em algum momento adoeceram. Atendemos pessoas que trabalham com serviços gerais e foram assediadas por patrões.


IHU On-Line – Em relação à lei Maria da Penha, que falhas essa norma ainda tem?
Ângela Maria Pereira da Silva – A Lei Maria da Penha ainda é muito precoce em relação a outras leis. Mas já percebemos que, na prática, a realidade é diferente do que preconiza a norma. Nós ainda precisamos avançar muito em relação à rede de proteção à mulher. Até mesmo para que haja aplicabilidade da lei dentro do prazo que ela estipula, que seriam de 48 horas para conceder ou não uma medida protetora de emergência. Outra questão importante: se atendemos uma mulher que não tem uma rede de apoio, ela não vai ter para onde ir com seus filhos. O que ela deve fazer se não tiver suporte?

Temos também um índice crescente de mulheres que estão em constante violência doméstica em função da relação com as drogas e ainda faltam vagas suficientes para internação e desintoxicação do público feminino. Há também uma realidade crescente de mulheres em situação de rua, e, esta situação, sabemos que vai culminar, mais cedo ou mais tarde, numa violência sexual ou física. No entanto, a maioria das vagas em albergues públicos é para o público masculino. Existem muitas questões que precisam avançar para que a Lei seja cumprida na sua totalidade. A lei presume que a educação possa combater a violência.

 
IHU On-Line – Quais são os principais problemas que as delegacias da mulher vivem hoje?
Ângela Maria Pereira da Silva – Aqui em São Leopoldo nós não temos ainda uma delegacia especializada para o atendimento da mulher, nem da criança, nem do adolescente. O que eu percebo é que cada vez mais nós temos que olhar não só para o espaço institucional, mas para a questão da qualificação, das condições de trabalho das pessoas que atendem os “violentados”. Não adianta termos uma delegacia para a mulher se a equipe não estiver suficientemente capacitada e sensibilizada para realizar o atendimento ao público.

 
IHU On-Line – São muitos municípios que não possuem Delegacia da Mulher?
Ângela Maria Pereira da Silva – Acredito que tenhamos, aqui no Rio Grande do Sul, em torno de quinze ou vinte delegacias. Então, a delegacia da mulher ainda não é uma realidade se compararmos o estado com São Paulo, por exemplo. Estamos deixando muito a desejar.

 
IHU On-Line – Como a senhora vê, no caso de Eliza Samudio, o fato de que uma juíza que analisou a primeira denúncia de agressão da moça, mas não concedeu proteção a ela?
Ângela Maria Pereira da Silva – Do meu ponto de vista, como uma assistente social que atua no enfrentamento da violência contra a mulher, a Lei Maria da Penha está aberta a interpretações e, exatamente por isto, por vezes são feitas interpretações equivocadas. Se uma mulher teve uma relação com um homem e daí nasceu um filho, independente de eles estarem vivendo ou não juntos, ela deveria estar sendo amparada pela lei.

Acontece muito, quando se trata da violência de gênero, antes de analisar o fato, surgirem pré-suposições e preconceitos que interferem no julgamento. No caso da Eliza Samudio, a mídia descaracterizou esta mulher dos seus direitos, porque ela tinha um trabalho X, porque tinha relações familiares Y. Enfim, mostrou-a como uma pessoa não digna de direitos. Então, houve um desrespeito em relação a este caso, não só por parte da mídia como por parte do Poder Judiciário.

 
IHU On-Line – O caso de Eliza é emblemático para compreendermos as relações de gênero na sociedade contemporânea?
Ângela Maria Pereira da Silva – Creio que sim, porque, na realidade, estamos falando de alguém que tem um relativo poder e que já vinha demonstrando, em várias situações, o preconceito de gênero. Parece que isso não foi levado a sério. A prova disso foi a forma como a trataram durante a primeira denúncia que ela fez, quando foi submetida a tomar medicamentos abortivos e foi violentada fisicamente. Por conta disto, me questiono:l qual foi o apoio que esta moça teve do serviço que a atendeu naquele momento Qual foi a rede de apoio afetiva que ela teve? Isso porque, depois das denúncias, ela voltou a confiar neste homem, negando inclusive orientações que a advogada lhe deu. Confiando numa nova promessa, ela vai ao encontro do homem que a ameaçou, sem se resguardar, sem ir com alguém da família ou alguém de sua confiança e, com isso, estava vulnerável ao que supostamente tenha acontecido.


IHU On-Line – Os assassinos de Eliza e da advogada Mércia podem ser considerados produtos de uma sociedade com resquícios patriarcais?
Ângela Maria Pereira da Silva – Sim, podem. Na verdade, eles mostram muito desta esquizofrenia social que vivemos, onde é permitido violar não somente a mulher, mas também a pessoa idosa, os deficientes, ou seja, qualquer pessoa que é dita diferente da maior parte da sociedade em que vivemos. As pessoas não têm paciência, elas sempre estão sendo pressionadas pelo tempo, pelo acúmulo de tarefas. Tudo isso faz com que a pessoa vá se movimentando em um processo de irracionalidade em que não consegue mais entender que o respeito tem que prevalecer nas relações.


IHU On-Line – Podemos dizer que o crime passional é um ato de ódio?
Ângela Maria Pereira da Silva – É, antes de tudo, um ato de posse, de total possessividade em relação a outro indivíduo, é uma despersonalização do outro. Eu posso dizer que eu sou dona da minha caneta, mas eu não posso dizer que eu sou dona do desejo de outra pessoa. E, nestas situações onde a mulher é assassinada há muito a presença do sentimento de posse, onde o outro não é mais o outro, ela é minha, ela me pertence, se não fica comigo não fica com ninguém.



IHU On-Line – Como modificar os padrões culturais de opressão?
Ângela Maria Pereira da Silva – Temos que pensar nas gerações que estão se formando, porque hoje nós estamos percebendo um nível crescente de violência entre adolescentes. Há mutos casos de, no fim de um namoro, o menino adolescente tirando a vida da ex-namorada, atirando contra a namorada, causando um dano físico ao corpo desta menina. Isso já está acontecendo na geração que está aí. Por isso, temos que atuar na prevenção, trabalhando nas escolas com os pequenos e com as famílias. O atendimento à família faz com que se mude toda uma relação de conflito. Na família pode-se trabalhar todas as diferenças de pertencimento.


 
Notas:
[1] O Centro Jacobina atende mulheres que sofrem violência física, psicológica, patrimonial, moral e sexual, o centro faz parte da Coordenadoria Municipal da Mulher (CMM). Situado na Rua Lindolfo Collor, 918, o horário de atendimento é de segunda a sexta-feira, das 8h30 às 17h.
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