terça-feira, 15 de janeiro de 2013

A construção do masculino: dominação das mulheres e homofobia

Daniel Welzer-Lang

Resumo: A partir de definições de homofobia e de heterossexismo, este artigo explora a profundidade heurística das relações sociais de sexo transversais ao conjunto de pessoas egrupos de gênero, no interior de um quadro teórico que rompe com definições naturalistas e/ou essencialistas dos homens. O texto analisa os esquemas, o habitus, o ideal viril, homofóbico e heterossexual que constroem e fortalecem a identidade e a dominação masculina. Paradesenvolver este argumento, o autor faz uma vasta revisão bibliográfica da literatura feministafrancesa contemporânea.

Palavras-chave: masculinidade, homofobia, dominação, teoria feminista francesa.

Este artigo questiona as modalidades de análise a respeito dos homens e do masculino e o quadro teórico e os instrumentos utilizados para esta análise, à luz de meustrabalhos e dos debates atuais em diferentes redes que tratam deste tema. Apoio-me, emparticular, no trabalho de síntese que realizei para o exame de habilitação em orientação e nos debates que atravessam a Rede Européia de Homens Pró-feministas e a Universidade euromediterrânea das homossexualidades.

Este artigo completa as análises teóricas que publiquei em 1994 que definiam, entre outras coisas, o heterossexismo, a homofobia e suas
ligações com a dominação masculina.

As relações homens/mulheres e homens/homens, analisadas aqui como relaçõessociais de sexo, parecem ser em todos os casos – hipótese que eu defendo – o produto de um duplo paradigma naturalista:
– a pseudo natureza superior dos homens, que remete à dominação masculina, ao sexismo e às fronteiras rígidas e intransponíveis entre os gêneros masculino e feminino;
– a visão heterossexuada do mundo na qual a sexualidade considerada como “normal” e “natural” está limitada às relações sexuais entre homens e mulheres. As outras sexualidades, homossexualidades, bissexualidades, sexualidades transexuais... são, no máximo, definidas, ou melhor, admitidas, como “diferentes”.



A dominação masculina e as relações homens/mulheres

A existência da dominação masculina se tornou hoje uma evidência, inclusive nasociologia. A época de minha defesa de tese, onde era vista pelos membros da bancacomo uma fantasia “arqueo-paleo-marxista” (retomando uma expressão utilizada nadefesa), parece longe. Numerosos colegas, inclusive homens sociólogos, utilizam hoje esteparadigma para descrever o social de maneira compreensiva.

E a contribuição dos estudos feministas para afinar e enriquecer esta análise está hoje integrada em numeros textos. É assim que parece haver atualmente um consenso para designar as relações homens/
mulheres como relações sociais de sexo. Dito de outra forma, a dominação não deve ser analisada como um bloco monolítico onde tudo está dado, onde as relações se reproduzem ao idêntico.

Mas a análise, tanto global quanto a que se interessa por um campo específico ou por interações particulares, deve articular o quadro global, societário (a dominação masculina), e as lutas objetivas ou subjetivas das mulheres e de seus aliados que visam a transformar as relações sociais de sexo, logo a modificar a dominação masculina.

Os homens dominam coletiva e individualmente as mulheres. Esta dominação se exerce na esfera privada ou pública e atribui aos homens privilégios materiais, culturais e simbólicos. Um setor dos estudos feministas atuais tende, aliás, a quantificar estes privilégios e a mostrar concretamente os efeitos da dominação masculina.

A política atual, que, em nossa sociedade, visa a diminuir as “desigualdades”, não deve nos deixar esquecer que elas perduram, sob pena de tomarmos nossos sonhos por realidade e não compreendermos mais nada.

Eu digo desigualdades por simplificação, mas duvidemos deste termo. Ele tende a nos mostrar as situações de homens e mulheres como resultados neutros de um sistema global, em que cada grupo de sexo, cada gênero, seria simétrico e igual na análise. E em que o sistema nos seria imposto sem possibilidades de mudanças.

Mas isso não é nada. A opressão das mulheres pelos homens é um sistema dinâmico no qual as desigualdades vividas pelas mulheres são os efeitos das vantagens dadas aos homens. Quando se atribui ao dividir uma torta sete partes aos homens e uma às mulheres, a luta por igualdade deve significar que se divida a torta em porções iguais. Logo, os homens terão menos!

Certamente, esta análise deve se articular com outras relações sociais, em especial as divisões hierárquicas ligadas às pertinências de classes sociais, aos grupos étnicos, à idade. Nossas vidas, nossas situações materiais são o produto de um conjunto de relações sociais.

Além disso, como outros autores, mostrei a assimetria que provoca a dominação dos homens. Não somente homens e mulheres não percebem da mesma maneira os fenômenos, que são no entanto designados pelas mesmas palavras,mas sobretudo não percebem que o conjunto do social está dividido segundo o mesmo simbólico que atribui aos homens e ao masculino as funções nobres e às mulheres e ao feminino as tarefas e funções afetadas de pouco valor. Esta divisão do mundo, esta cosmogonia baseada sobre o gênero, mantém-se e é regulada por violências: violências múltiplas e variadas as quais – das violências masculinas domésticas aos estupros de guerra, passando pelas violências no trabalho – tendem a preservar os poderes que se atribuem coletivamente e individualmente os homens à custa das mulheres.

Tudo isso é conhecido, e mesmo que pendurem os debates – sobre a natureza das violências, as relações entre a divisão por sexo e por gênero, o lugar dos homens, a análise das transformações atuais,etc. – surge um consenso para designar a divisão entre dois grupos (ou classes) de sexo, em gêneros, como fundadora da dominação masculina.

Já há várias décadas, inicialmente as mulheres e depois alguns homens, têm lutado e/ou produzido análises que procuram dar visibilidade e explicar esses fenômenos. Podemos nos remeter aos textos que há muito tempo servem de base a essas análises, produzidos por Christine Delphy, Colette Guillaumin, Nicole-Claude Mathieu e Paola Tabet.

Cada uma, à sua maneira, mostra como a dominação é apresentada como óbvia, como um fenômeno natural, integrado de algum modo à divisão social e hierarquica por sexo. Da análise crítica da opressão das mulheres, nasceram as lutas contra o sexismo, o patriarcado e o viriarcado.

Se hoje se admite a dominação masculina e as relações sociais de sexo têm sido utilizadas para descrevê-la, estas são freqüentemente citadas como relações sociais ‘entre’ os sexos, entre homens e mulheres. Essa divisão naturalista e essencialista se reproduz na própria análise. Desde 1994 (Welzer-Lang, Dutey, Dorais, 1994), mostramos como o grupo de homens é também estruturado pelos mesmos processos. Descrevi como a educação dos meninos nos lugares monossexuados (pátios de colégios, clubes esportivos, cafés..., mas mais globalmente o conjunto de lugares aos quais os homens se atribuem a exclusividade de uso e/ou de presença) estrutura o masculino de maneira paradoxal e inculca nos pequenos homens a idéia de que, para ser um (verdadeiro) homem, eles devem combater os aspectos que poderiam fazê-los serem associados às mulheres. Eu propus, referindo-me aos trabalhos de Maurice Godelier (1982), nomear o conjunto desses lugares e espaços como a “casa dos homens”. Não seria demais retomar em parte aqui o que eu descrevia na época, à luz de nosso estudo sobre a homofobia.


A casa-dos-homens

Em nossas sociedades, quando as crianças do sexo masculino deixam, de certo modo, o mundo das mulheres, quando começam a se reagrupar com outros meninos de sua idade, elas atravessam uma fase de homossociabilidade na qual emergem fortes tendências e/ou grandes pressões para viver momentos de homossexualidade.

Competições de pintos , maratonas de punhetas (masturbação), brincar de quem mija (urina) o mais longe, excitações sexuais coletivas a partir de pornografia olhada em grupo, ou mesmo atualmente em frente às strip-poker eletrônicas, em que o jogo consiste em tirar a roupa das mulheres... Escondidos do olhar das mulheres e dos homens de outras gerações, os pequenos homens se iniciam mutuamente nos jogos do erotismo. Eles utilizam para isso estratégias e perguntas (o tamanho do pênis, as capacidades sexuais) legadas pelas gerações precedentes. Eles aprendem e reproduzem os mesmos modelos sexuais, tanto pela forma de aproximação quanto pela forma de expressão do desejo.

Nessa casa dos homens, a cada idade da vida, a cada etapa de construção do masculino, em suma está relacionada uma peça, um quarto, um café ou um estádio. Ou seja, um lugar onde a homossociabilidade pode ser vivida e experimentada em grupos de pares. Nesses grupos, os mais velhos, aqueles que já foram iniciados por outros, mostram, corrigem e modelizam os que buscam o acesso à virilidade. Uma vez que se abandona a primeira peça, cada homem se torna ao mesmo tempo iniciado e iniciador.

Sobre este tema, os trabalhos do antropólogo Maurice Godelier sobre os Baruya da Nova Guiné descrevem como “o esperma é a vida, a força, o alimento que dá força à vida”. Ele mostra como, no segredo da casa-dos-homens, os jovens homens ainda não casados e os iniciados transmitem, pela ingestão de esperma (felação), os rudimentos da dominação das mulheres. Qualquer violação desse segredo é punida muito severamente e aqueles que resistem à iniciação são obrigados por força a fazê-la, diz o pesquisador.


Aprender a sofrer para ser um homem,
a aceitar a lei dos maiores

Aprender a estar com os homens, ou nas primeiras aprendizagens esportivas na entrada da casa-dos-homens, a estar com os postulantes ao status de homem, obriga o menino a aceitar a lei dos maiores, dos antigos: daqueles que lhe ensinam as regras e o savoir-faire , o saber ser homem. A maneira pela qual alguns homens se lembram dessa época e a emoção que transparece então parecem indicar que esses períodos constituem uma forma de rito de passagem.

Aprender a jogar hockey , futebol ou base-ball é inicialmente uma maneira de dizer:eu quero ser como os outros rapazes. Eu quero ser um homem e portanto eu quero me distinguir do oposto (ser uma mulher). Eu quero me dissociar do mundo das mulheres e das crianças.

É também aprender a respeitar os códigos, os ritos que se tornam então operadores hierárquicos. Integrar códigos e ritos, que no esporte são as regras, obriga a integrar corporalmente (incorporar) os não-ditos. Um desses não-ditos, que alguns anos mais tarde relatam os rapazes já tornados homens, é que essa aprendizagem se faz no sofrimento.

Sofrimentos psíquicos de não conseguir jogar tão bem quanto os outros. Sofrimentos dos corpos que devem endurecer para poder jogar corretamente. Os pés, as mãos, os músculos... se formam, se modelam, se rigidificam por uma espécie de jogo sado- masoquista com a dor.

O pequeno homem deve aprender a aceitar o sofrimento – sem dizer uma palavra e sem “amaldiçoar” – para integrar o círculo restrito dos homens. Nesses grupos monossexuados se incorporam gestos, movimentos, reações masculinas, todo o capital de atitudes que contribuirão para se tornar um homem.

Nos primeiros grupos de meninos, se “entra” em luta dita amigável (não tão amigável assim se acreditamos no monte de choros, de decepções, de tristezas escondidas que se associam a eles) para estar no mesmo nível que os outros e depois para ser o melhor. Para ganhar o direito de estar com os homens ou para ser como os outros homens. Para os homens, como para as mulheres, a educação se faz por mimetismo. Ora, o mimetismo dos homens é um mimetismo de violências. De violência inicialmente contra si mesmo. A guerra que os homens empreendem em seus próprios corpos é inicialmente uma guerra contra eles mesmos. Depois, numa segunda etapa, é uma guerra com os outros.

Articulando prazeres – prazer de estar entre homens (ou homens em formação) e se distinguir das mulheres, prazer de poder legitimamente fazer “como os outros homens” (mimetismo) – e dores do corpo, cada homem vai individualmente e coletivamente fazer sua iniciação. Através dessa iniciação se aprende a sexualidade. A mensagem dominante: ser homem é ser diferente do outro, diferente de uma mulher. Além disso, eu mostrei como a “primeira peça” da casa-dos-homens, o que eu chamei de vestíbulo da “gaiola da virilidade”, é um lugar de alto risco de abuso. Ela funciona, parece, como um lugar de passagem obrigatório que é fortemente freqüentado. Um corredor onde circulam, ao mesmo tempo, jovens recrutas da masculinidade (os pequenos homens que acabaram de abandonar a saia das mães) e outros pequenos homens recém-iniciados que vêm também – assim é o costume dessa casa – transmitir uma parte de seus saberes e seus gestos. Mas a antecâmara da casa-dos-homens é também um lugar frequentado periodicamente por homens mais velhos. Homens que ocupam, ao mesmo tempo, o lugar de irmão mais velho, modelo masculino a ser conquistado pelos pequenos homens e agentes encarregados de controlar a transmissão dos valores. Alguns se nomeiam pedagogos, outros monitores de esporte, ou ainda padres, chefes de escoteiros... Alguns estão presentes fisicamente. Outros agem através de suas mensagens sonoras, de suas imagens que se manifestam nesse lugar. Outros ainda são denominados artistas, cantores, poetas. De fato, falar da “primeira peça” da casa-dos-homens constitui uma forma de abuso de linguagem. Dever-se-ia dizer: as primeiras peças, pois a geografia das casas-dos-homens é muito mutável. A cada cultura ou a cada microcultura, às vezes em cada cidade ou vilarejo, a cada classe social, corresponde uma forma de casa-dos-homens. O tema da iniciação dos homens se conjuga de maneira extremamente variável. O conceito é constante, mas as formas são lábeis.

O masculino é, ao mesmo tempo, submissão ao modelo e obtenção de privilégios do modelo. Alguns homens mais velhos se aproveitam da credulidade dos novos recrutas e essa primeira peça da casa é vivida por numerosos meninos como a antecâmara do abuso. E isso numa proporção que, à primeira vista, pode surpreender.

Não somente o pequeno homem começa a descobrir que, para ser viril, é preciso sofrer, mas também nessa peça (ou nas outras, não se trata aqui de uma metáfora) o menino é, às vezes, iniciado sexualmente por um adulto. Iniciado sexualmente pode também significar violado.

Ser obrigado – sob obrigação ou ameaça – de acariciar... de chupar ou de ser penetrado de maneira anal por um sexo ou um objeto qualquer. Masturbar o outro. Deixar-se acariciar...Compreende-se que os homens a quem uma tal iniciação é imposta guardem seguidamente marcas indeléveis

Tudo parece indicar, de acordo com as entrevistas realizadas no estudo sobre a homofobia e depois no das prisões, que muitos homens que foram violentados sexualmente por outro homem mais velho acabam por reproduzir esta forma particular de abuso. É como se eles se repetissem: “Já que eu passei por isso, que ele também passe”. E o abuso, além dos beneficios que traz, é também uma forma de exorcismo, uma conjuração da desgraça vivida anteriormente. Depois, ao longo dos anos, quando a lembrança da dor e da humilhação se estanca um pouco, o abuso inicial funcionaria como um elemento de compensação, um pouco como uma conta bancária que teria sido aberta por imposição;onde os outros abusos perpetrados representariam os juros que o homem abusado vem cobrar. Isso vale tanto para abusos realizados contra homens como os contra mulheres, realizados em outros lugares.

Outros se fecham em uma couraça, incorporando, de uma vez por todas, que a competição entre homens é uma selva perigosa onde é necessário saber se esconder, se debater e onde in fine a melhor defesa é o ataque.

Eu evoco aqui os abusos (ditos) sexuais. Eles são bem reais e em número muito importante. As pesquisas futuras nos revelarão as formas, a freqüência e os efeitos a curto, médio e longo prazo.

Confessemos por enquanto nossa negligência sobre esse tema.
Outras formas de abuso – freqüentemente suas próprias preliminares – são cotidianas, complementares ou paralelas aos abusos sexuais. Abusos individuais, mas também abusos coletivos. Que se pense nos diferentes golpes: socos, pontapés, empurrões. As pseudobrigas nas quais, na realidade, o maior mostra sua superioridade física para impor seus desejos.

As ofensas, o roubo, a ameaça, a gozação, o controle, a pressão psicológica para que o pequeno homem obedeça e ceda às injunções e aos desejos dos outros... Há um conjunto multiforme de abusos de confiança violentos, de apropriação do território pessoal, de estigmatização de qualquer coisa que se afaste do modelo masculino dito correto. Todas as formas de violência e de abuso que cada homem vai conhecer, seja como agressor, seja como vítima. Pequeno, fraco, o menino é uma vítima marcada. Protegido por seus colegas, ele pode agora fazer os outros sofrerem o que ele tem ainda medo de sofrer.

Exorcizar o medo agredindo o outro e gozar dos benefícios do poder sobre o outro é a máxima que parece estar inscrita no frontal de todas essas peças.

Não nos enganemos. Essa união que faz a força, esta aprendizagem do coletivo, da solidariedade, da fraternidade – os homens de um mesmo grupo podem ser associado a irmãos – não tem apenas seus lados negativos. A solidariedade masculina intervém para evitar a dor de ser uma vítima; essa casa-dos-homens é o lugar de transmissão de valores  positivos. Ter prazer juntos, descobrir o interesse do coletivo sobre o individual, são valores que fundam a solidariedade humana.

É verdade que na socialização masculina, para ser um homem, é necessário não ser associado a uma mulher. O feminino se torna até o pólo de rejeição central, o inimigo interior que deve ser combatido sob pena de ser também assimilado a uma mulher e ser (mal) tratado como tal.

Estaríamos enganados se limitássemos a análise da casa-dos-homens à socialização infantil ou juvenil. Mesmo adulto, casado, o homem, ao mesmo tempo que “assume” o lugar de provedor, de pai que dirige a família, de marido que sabe o que é bom e correto para a mulher e as crianças, continua a freqüentar peças da casa-dos-homens: os cafés, os clubes, até mesmo as vezes a prisão, onde é necessário sempre se distinguir dos fracos, das femeazinhas, dos “veados”, ou seja, daqueles que podem ser considerados como não-homens.

Os trabalhos de Christophe Dejours (1998) e Pascale Molinier (1997) mostram como a virilidade, além dos benefícios (privilégios) que ela traz aos homens, é também uma estratégia de resistência para lutar contra o medo, o nojo que inspira o “trabalho sujo” (dos operários da construção civil ou dos empresários encarregados de demitir, por exemplo), e também como a virilidade só pode ser vivida transversalmente em relação às esferas públicas e privadas.

O masculino, as relações entre homens são estruturadas na imagem hierarquizada das relações homens/mulheres. Aqueles que não podem provar que “têm” são ameaçados de serem desclassificados e considerados como os dominados, como as mulheres. Dir-se-á deles que “eles são como elas” . É assim que na prisão um segmento particular da casa-dos-homens, os jovens homens, os homens localizados ou designados como homossexuais (homens ditos afeminados, travestis....), homens que se recusam a lutar, ou também os que estupraram as mulheres, dominadas, são tratados como mulheres, violentados sexualmente pelos “grandes homens” que são os chefões do tráfico, roubados, violentados. Freqüentemente, eles são apenas colocados na posição da “empregada” e devem assumir o serviço daqueles que os controlam, particularmente o trabalho doméstico (limpeza da célula, da roupa...) e os serviços sexuais.

As relações sociais de sexo se exercem de maneira transversal ao conjunto da sociedade, fazendo com que homens e mulheres sejam atravessados/as por elas.

É então nessa perspectiva que eu propus que se definisse a homofobia como a discriminação contra as pessoas que mostram, ou a quem se atribui, algumas qualidades (ou defeitos) atribuídos ao outro gênero.

A homofobia engessa as fronteiras do gênero.
Quando, com Pierre Dutey, foram interrogadas umas 500 pessoas sobre a forma  como elas reconheciam pessoas homossexuais na rua, na sua grande maioria, elas falam de homens homossexuais (o lesbianismo é invisível). E mais, elas associam aos homossexuais os homens que apresentam sinais de feminilidade (voz, roupas, jeito corporal). Os homens que não mostram sinais redundantes de virilidade são associados às mulheres e/ou a seus equivalentes simbólicos: os homossexuais.

O paradigma naturalista da dominação masculina divide homens e mulheres em grupos hierárquicos, dá privilégios aos homens à custa das mulheres. E em relação aos homens tentados, por diferentes razões, de não reproduzir esta divisão (ou, o que é pior, de recusá-la para si próprios), a dominação masculina produz homofobia para que, com ameaças, os homens se calquem sobre os esquemas ditos normais da virilidade.



 a continuação desse longo texto aqui - em PDF

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